Monday, December 1, 2008

(Mais um) Adeus

Estou de férias, longe do serviço e de Lisboa... pelo menos fisicamente.
Ontem recebi uma mensagem triste. A João dava-me conta da morte de um doente que me era muito querido.
Porquê o meu carinho especial pelo Sr. C.? Nem sei explicar. Sei apenas que consegui estabelecer com ele uma relação muito especial, pautada pelo humor mas também por momentos de grande seriedade. Ouvi dele muitas confissões; ele arrancou de mim muitos sorrisos.
E, ao ler a mensagem, assaltou-me uma serie de flashbacks. O dia em que o alcunhei de tintinzinho, a noite em que foi apanhado a voltar da copa ainda com o queixo sujo de iogurte, o almoço em que lhe levei um café "às escondidas", a tarde em que me apresentou à filha como uma amiga, a manhã em que o reencontrei no segundo internamento e fui recebida com um caloroso abraço... a última vez que o vi, imobilizado na cama, em que me tratou pelo meu nome e fez aquele ar de desalento.
Contam que parou durante os cuidados de higiene. Assim, de repente, sem nada que o fizesse prever. As tentativas de reanimação desenrolaram-se por meia hora, sem sucesso. Mas quando tudo chegou ao fim, o Tiago reparou naquele sorriso característico que continuava a esboçar...
Não podia ser de outra maneira. Até a morte ele fez questão de tratar com a leveza de tragico-comédia que adoptou para a sua vida.

2 comments:

Anonymous said...

Sabes o que é que eu senti, Ana? Que naquele momento a tua presença ali era uma evidência. Não me cansei de repetir à Joana o quanto gostavas deste doente!
Vou-te dizer o que senti quando o Tiago disse o que disse. Não sei o que está para lá desta linha ténue que nos faz estar vivos e o que acontece quando a linha fica isoelectrica... mas a primeira imagem que me surgiu é a pessoa conseguir observar-se a si e aos outros nesse preciso momento entre a luta de ficar ou deixar-se ir (e quero acreditar que neste doente também ocorreram flashbacks dos últimos tempos, e os últimos tempos foram ali naquele serviço, connosco e sobretudo contigo, e se há motivos para aquele sorriso final então nesses motivos estarás tu e ele...

Foi verdadeiramente aquilo que senti :)

@na said...

Muito obrigada, João. Por tudo e por mais este comentário. Onde quer que ele esteja... continua connosco. E, certamente, a sorrir.