Monday, June 4, 2012

Mercado da saudade (ou crónica do Rock in Rio Lisboa 2012)

Bruce Springsteen não só é o boss como é um senhor. Aos 62 anos deu um concerto e tanto, mostrando músicas novas que provam que o seu talento criativo e a sua voz estão longe de estarem esgotados, e revisitou temas de sempre, parte integrante da memória colectiva de pelo menos 3 gerações. Nunca fui uma fã, de cor sabia apenas alguns refrões, mas tornei-me uma admiradora e não posso esconder o respeito pela energia que mostrou em palco, numa entrega a um público exausto da espera e do frio. Cantou sempre como se dedicasse todas as músicas às pessoas da primeira fila, mas deixando claro que sabia bem a dimensão da plateia que o aplaudia. Achei que o concerto ia terminar várias vezes e, apesar de estar a gostar, respirava aliviada pensando em regressar a casa, mas rapidamente ele avançava: “one two three” ou “one more”, que invariavelmente se transformava em mais quatro ou cinco. O final foi apoteótico, com o desfile das mais conhecidas, que puseram os milhares de resistentes da Bela Vista a dançar. Uma oportunidade agarrada, esta de ver ao vivo um nome incontornável do rock’n’roll (com cheirinho a country, folk, jazz, blues, pop ou o que mais lhe sabe acrescentar e calha sempre tão bem).
Xutos são sempre Xutos. Já todos vimos muitas vezes, conhecemos todo o repertório, qualidades e limitações… Mas é inegável que incendeiam sempre uma plateia, seja ela de que dimensão for, em qualquer cantinho deste Portugal. Foi impossível ficar-lhes indiferente… E houve que cantar, que abanar, que aplaudir e que fazer o gosto ao sorriso de orgulho ao pensar que são portugueses e são dos bons.
Mas nesta retrospectiva o melhor não foi o que se guardou para o fim. Aconteceu ainda de dia claro e prolongou-se pelo anoitecer. Foram os James, foi o Tim Booth, os seus agudos e as suas danças de boneco desatarrachado, foram os acordes familiares e as letras sabidas de cor, foram as recordações do punk rock e do meu eu adolescente…    Com a falha imperdoável de ter ficado a faltar o “Fred Astaire”. Simples, iguais a si próprios. É deles que mais dificuldade há em falar, pois houve sobretudo muito que sentir, entre o colorido do palco e os olhos fechados de quem canta a plenos pulmões canções intemporais, como são sempre as dos melhores anos das nossas vidas.