Sunday, January 31, 2010

Dia de jogo

Sou benfiquista. Porquê? É talvez daquelas coisas que não se explicam. A simpatia pendeu para ali, a influência paterna certamente também ajudou e, assim, não sendo "uma doente", a verdade é que o clube do meu coração é o Glorioso.

Ontem fui ao estádio e dei comigo a pensar o quanto um jogo de futebol, à semelhança de poucos outros eventos, traz consigo momentos de pura sintonia.

É absolutamente fantástico ter milhares de pessoas unidas pelo mesmo fio condutor, gritando as mesmas palavras de ordem, cantando as mesmas letras, tendo o olhar vidrado no mesmo acontecimento. Cada um vive à sua maneira, ao seu ritmo, com a sua intensidade, mas de alguma forma paira ali uma aura de comunhão indescritível.

Por 90 minutos, as bancadas transformam-se em palco de irmandade, os estranhos são companheiros unidos pelo mesmo desejo, movidos pela mesma ambição, tomados pela mesma paixão.

Ouvir o nome do meu clube gritado por 52 mil pessoas tem impacto. Comove. Ver um estádio inteiro vestido de vermelho, cantando, agitando cachecóis, fazendo ondas humanas e gritando gooooooooooooooooooooooooooloooooooooooooooooooooooo, de pé, até a garganta doer e o coração parecer saltar pela boca, é arrepiante. É o verdadeiro inferno da Luz.

E mesmo no momento mais duro, que é assistir ao golo do clube adversário, que é admitir a inferioridade, a fragilidade, a má jogada, há apenas breves momentos de silêncio (em que cada adepto digere amargamente o que acabou de ver) e o desânimo não dura mais que uns 15 segundos, até que todo o estádio torne a gritar, ainda mais orgulhosamente, pelo seu Benfica.

Ontem saí do estádio feliz, de braço dado com o meu pai, na noite fria, entre os comentários das pessoas que dispersavam, de volta às suas casas e às suas vidas, na sequela de uma vitória.

Outros dias houve em que saímos desanimados, com derrotas ou empates. Mas não há nada a fazer, de facto. Ser de um clube não é uma escolha racional: o nosso é sempre o melhor do mundo, mesmo quando perde por muitos.

Ser do Benfica é apenas ter na alma a chama imensa. E é algo que não se deixa de ser, como dizia outro alguém, “até morrer”.

Friday, January 29, 2010

Porque fazem greve os enfermeiros?


A Enfermagem obteve o grau de licenciatura há cerca de uma década. Desde então, os enfermeiros são provavelmente os profissionais de saúde que mais têm investido em formação, sendo evidente não só a forte aposta em formação contínua, de carácter predominantemente teórico-prático, mas também um crescente desenvolvimento em termos académicos, com um grande aumento da frequência de mestrados e doutoramentos, bem como a execução de trabalhos de investigação.
Assim, ser enfermeiro significa cada vez mais ser um profissional altamente diferenciado, cuja prática implica uma grande responsabilidade, num contexto onde se pretende rigor, cientificidade, humanização e qualidade. Pelo que se torna evidente a sua importância no sistema nacional de saúde.
No entanto, e apesar de um notável percurso de desenvolvimento profissional, a Enfermagem não vê reconhecido o seu real valor ao ser sucessivamente adiada a actualização da remuneração dos seus profissionais, bem como da carreira em si.
Os enfermeiros não estão em greve para reinvindicar uma diminuição da excessiva carga horária a que estão sujeitos, não exigem o pagamento de horas extraordinárias, não estão a solicitar que o tempo e dinheiro que dispensam em formação profissional lhes seja de alguma forma ressarcido, não pedem benefícios ou privilégios, não falam sequer dos riscos a que se sujeitam diariamente ou do quão desgastante é a sua profissão, não estão a discutir as políticas institucionais que tantas vezes os desvalorizam funcionalmente e os remetem para o lugar de meros executantes...
Por muitas queixas que tenham, desta vez os enfermeiros estão em greve apenas para reivindicar que o pagamento do seu trabalho seja equivalente ao pagamento que o Estado faz a todos os outros licenciados. Apenas porque não há razão para que dois profissionais com o mesmo nível de formação sejam pagos de forma diferente quando trabalham para a mesma entidade.
É, no fundo, uma questão de justiça para com uma classe que tem sido sucessivamente tratada como secundária. Os enfermeiros, como qualquer outro grupo profissional, merecem ter uma carreira que lhe permita crescer e projectar um futuro; merecem ver o seu empenho e esforço recompensados e valorizados; e merecem a actualização do seu salário de acordo com a sua formação, diferenciação e responsabilidade... O que não pode corresponder a menos 500-600 € do que um professor ou técnico superior de saúde. Não que eles ganhem demais; nós é que somos verdadeiramente mal pagos.
Os enfermeiros estão em greve porque não são um grupo de caridosos benfeitores que fazem pensos e "sabem dar" injecções, mas antes um grupo de profissionais sérios, que prestam cuidados imprescidíveis, e precisam ser considerados como tal.

Tuesday, January 19, 2010

Haiti

As imagens sucedem-se. Todos vêem, todos sentem alguma coisa, à sua maneira. Não acredito na distância nem na indiferença perante a dimensão de uma tragédia como esta. E, perante os jornais e reportangens, mais do que o choque ou a tristeza, o que cresce em mim é o impulso de ir. Ir, apenas. Chegar, fazer algo mais do que um donativo. Usar as minhas mãos e o que sei fazer em prol de um bem tão maior.
Caramba, como me custa não poder!