Saturday, May 31, 2008

Fortemente recomendado a adultos

Não sou nada apreciadora destes jornais de distribuição gratuita, cheios de títulos escandalosos e notícias sensacionalistas... mas desta vez tenho que me render. A edição do jornal Metro dedicada ao dia internacional da criança está fenomenal.
Sob o mote "propostas para salvar o planeta", as crianças assumem a redacção do jornal e apresentam soluções para um mundo melhor através das suas palavras e desenhos, no tom de espontaneidade e ingenuidade que todos perdemos algures quando, sem darmos por isso, deixamos de nos incluir nessa fase mágica que é a infância.
Além das preocupações ambientais, do carinho e dedicação aos animais e de um profundo sentido de justiça social, reina também a imaginação e aquelas afirmações que nos desarmam como poucos adultos são capazes. "Se tivesses que mudar algo no mundo, o que seria?" é a pergunta; "que os anões e os duendes não tivessem medo de nós", responde a Inês!
Aprendamos pois alguma coisa com eles, pois não serão crianças para sempre!

Thursday, May 29, 2008

Um dia

Fica a imagem de uma campanha publicitária que considero genial e que, a cada pacote de açúcar, me dá que pensar.

Passamos a vida a fazer planos e a adiá-los, com a desculpa de que "um dia" teremos tempo, dinheiro, companhia, disposição ou oportunidade de os realizar. E os dias sucedem-se até que esse dia chegue... ou talvez não.
Lembremo-nos apenas que todos os dias são bons dias para comprar flores, para vestir uma roupa bonita, para ler um livro, ir ao cinema, ligar àquele amigo que não temos visto, inscrevermo-nos naquele curso que sempre quisemos fazer... para viver, para sorrir, para sonhar e, sobretudo, para fazer algo no sentido de concretizar esses sonhos.

Sunday, May 25, 2008

Preto e Branco

Uma noite a preto e branco tingida pelas cores da verdadeira amizade, aquela que meses depois do último encontro se mantém viva nos sorrisos, nos gestos, nas palavras e nos silêncios. Sinto saudades do tempo em que vos via todos os dias.. Orgulho-me dos amigos em que esse tempo nos transformou, permitindo-nos viver noites como esta.
(24 Maio 2008)

Saturday, May 24, 2008

Casados de fresco

Ontem o Pedro casou. O primeiro, o nosso pioneiro nessa união com outro alguém num passo que encerra em si o compromisso da eternidade.
Emocionei-me. Emociono-me denovo ao relembrar, ao ver as fotografias. E penso em tudo o que aquele dia significa nas suas vidas. Independentemente de todas as dúvidas e reflexões acerca do casamento, religioso ou não, e do seu valor e importância numa relação e nos dias de hoje, é inegável que se trata de um marco na vida de duas pessoas.
Estamos a ficar crescidos... e o Pedro e a Irina não deram apenas azo a um sonho ingénuo de criança; deram antes um passo firme de adulto na construção do seu futuro. Quanto a mim, só desejo que esse futuro seja espelho do dia do seu casamento no qual, apesar do vento e chuva (até de árvores a cair!), brilhou o sol, fez-se sentir o calor dos afectos e viu-se a felicidade estampada nos seus sorrisos.
(11 Maio 2008)

Friday, May 23, 2008

Greves e graves

Também eu tenho motivos para andar descontente, desde o trabalho precário, à remuneração como bacharel apesar do grau de licenciatura, à ausência de perspectivas de progressão numa carreira que está suspensa há anos, à falta de condições de trabalho... Mas, que me desculpem todos os grevistas, sindicalistas e outros istas ferranhos: que greve é esta feita a uma sexta feira (como quase todas, curiosamente), a seguir a um feriado?! Que impacto tem este tipo de data a não ser o de agravar a ideia de que o funcionalismo público se resume a um conjunto de baldas, pontes, entradas tardias e saídas precoces com muitas pausas para descanso pelo meio?! E mais: que definição de serviços mínimos é esta, na qual colocar e retirar uma arrastadeira não está incluída mas mudar uma fralda está, obrigando assim pessoas continentes a urinar e evacuar na fralda, num completo desrespeito pela sua dignidade?! Onde ficam a responsabilidade e a ética profissionais?!
Greve é, sem dúvida, um direito dos trabalhadores. Direito ao protesto, à luta por tudo o que lhes assiste, mas não direito "à balda". É uma manifestação contra o patronato e nunca contra o cidadão seu cliente, neste caso os doentes que, na prática, são quem realmente sofre.
Não me queixo de ter posto as arrastadeiras que pus, de ter dado os banhos que dei sozinha, de ter feito as camas desocupadas, de ter limpo e arrumado bacias, de ter carregado com jarros de água quente, de não ter o material reposto, de ver os sacos do lixo cheios e mal cheirosos... de nada. A não ser desta atitude generalizada de "deixa-andar" à qual não consigo nem quero aderir.

Wednesday, May 14, 2008

Por uma vida melhor


Termina já dia 18 a exposição de Gérald Bloncourt, uma exposição de fotografias complementada por documentários acerca da emigraçãp portuguesa em França nos anos 50/60. Numa palavra: impressionante.

Na minha família ninguém fez parte deste movimento migratório massivo e, talvez por isso, não imaginava o quão difíceis foram aqueles tempos. A par da miséria que viviam muitos em Portugal, trabalhando de Sol a Sol e tirando da terra o seu fraco sustento, muitas vezes pautado pela fome, pelo frio e pela frustração de não poder dar aos filhos o conforto e a educação que mereciam, estavam num país atrasado, marcado pela ditadura e pela censura, pela ignorância e pela opressão... e assim partiam "a salto", clandestinos, caminhando descalços pelas montanhas dos pirinéus quando a sola dos sapatos se gastava de vez, passando fome e sede, dormindo ao frio entre as vacas para se aquecerem, até chegarem onde sonharam encontrar trabalho, dinheiro e, assim, uma vida melhor.

Mas encontravam bairros de lata, terrenos de lama, exploração no trabalho, ordenados escassos e atrasados, meses e anos de sofrimento enquanto reconstruiam uma França moderna e desenvolvida, país da Igualdade, Liberdade e Fraternidade, que fechava os olhos à sua presença miserável e desumana. Por cá, nada de novo... apenas um número cada vez maior de fugas clandestinas para esse mesmo destino.

Mas nas cartas à família, confessam eles, apenas contavam coisas maravilhosas, tentando convencer quem ficava que a vida lhes sorria agora, envergonhados de mostrar a sua verdadeira condição.

Os anos passaram para muitos e trouxeram algumas melhorias... pelo menos casas de tijolo e telha, pelo menos a possibilidade de chamar os filhos para junto de si, de os enviar para a escola... Alguns voltaram, atraídos pelo apelo da terra-mãe e das memórias de infância e juventude, finda a ditadura e a guerra colonial que levou tantas vidas na sua geração. Mas os filhos ficaram, os netos nem português falam... e assim se perdem as memórias destas vidas divididas e sofridas.

Os olhos ficaram húmidos muitas vezes ao longo do tempo que ali passei, vendo aquelas imagens e ouvindo aqueles testemunhos. E no final, além da emoção, a clara noção de que muito pouco mudou. Muitos portugueses (e cada vez mais) emigram em busca do que aqui lhes falta, assim como muitos africanos e europeus de leste (só como exemplo) vêm para cá em busca do que lhes falta nas suas terras. E o que encontram? Um país que ignora as suas carências, que os usa como mão de obra barata, marginaliza e deixa acumular nas periferias das grandes cidades em autênticas bidonville à portuguesa.

Em suma, está naquelas salas um conjunto de memórias de uma época que marcou uma geração em dois países e cuja história vemos repetir-se, hoje como no passado, passivamente.