Sunday, December 23, 2007

Season Greatings

As ruas iluminadas e o frio que (finalmente!) chegou anunciam-no. A árvore de Natal foi ficando "composta" com os embrulhos coloridos debaixo dela e brevemente o Menino Jesus comemora mais um aniversário. É Natal!
Como uma criança, ando feliz e entusiasmada. Até fiz um cd para ter uma banda sonora a condizer no carro! E circulo por Lisboa ao som das melodias que parecem só fazer sentido nesta época do ano. Mas hoje até as ruas estão mais desertas, porque depois da euforia das compras quase todos rumaram já às suas terras. Falto eu!
E enquanto fico por cá sonho com o cheiro e a azáfama que vou encontrar na cozinha, com o calor da lareira acesa na sala, as vozes e gargalhadas familiares que enchem a casa... e recordo os natais da minha infância, a maioria passada em casa das avós, entre brincadeiras de primos e apanha de musgo para a construção do grande presépio.
São doces recordações. Sabem a broas de mel, cheiram a açúcar e canela e têm o brilho das luzes que piscam no pinheiro. São presentes que não se vendem em nenhum centro comercial... E são, para mim, o que de melhor o Natal traz.

May your days be merry and bright
And may all your Christmases be white.

Thursday, December 6, 2007

Querida F.,

trato-te hoje por tu como nunca o fiz perante ti porque te falo de igual para igual, apenas de pessoa para pessoa, e independentemente dos papéis e estatutos que fizeram com que as nossas vidas se cruzassem.
Quando te conheci já era conhecida a tua sentença, mas a sua concretização parecia mais longínqua. Logo admirei em ti a força e a generosidade com que enfrentavas o sofrimento e me sorrias, enquanto eu, pequena e impotente, muitas vezes nem sabia bem o que fazer por ti.
Mas partiste a andar, de braço dado com o teu marido, outro herói anónimo, paciente e dedicado... e não pensei que voltasses tão cedo.
Reencontrei-te ontem. Não és a mesma. Seria muito doloroso ver-te se não soubesse quem foste; dói-me ainda mais porque sei quem és por detrás do rosto e do corpo desfigurados e do sofrimento atroz que expressas.
Agonizas. Os teus gritos ouvem-se por toda a enfermaria, ecoam pelo serviço nas noites escuras e frias. É difícil deixar-te confortável ou dar-te privacidade; é difícil olhar o teu marido e os teus filhos, que sofrem contigo sem que para eles tenhamos mais que umas poucas palavras. Tentamos, ainda assim, não te causar dor, proporcionar-vos tempo na companhia uns dos outros, transmitir-te paz...
Mas tens dor. E a morfina que te damos não chega. Desesperas.
Não, não vou falar da instituição, dos profissionais, das insuficiências e incapacidades. Porque tu devias ser maior que tudo isso. E para mim és.
Desejava apenas poder reconhecer mais dignidade na tua morte... e espero que, pelo menos, não morras sozinha.