Thursday, December 24, 2009

Porque há quem trabalhe esta noite...

Este é um anúncio de Natal que me comove.

Monday, December 7, 2009

Choque

Pensamentos e imagens imaginadas que atravessam a mente, sucessivamente. Foi assim de noite, foi assim de dia. Parar é pensar nisso. E é sentir de imediato uma angústia gigante e um arrepio. Como a vida pode mudar ou mesmo acabar de um momento para o outro, como os gestos quotidianos e repetido encerram em si um sem número de potenciais riscos que nos habituamos a ignorar, como há momentos de verdadeira tragédia e, ao mesmo tempo, de profunda sorte nesta vida...
Respiro fundo e tento convencer-me de que, apesar do susto, está tudo bem.

Sunday, December 6, 2009

25

25 anos são, necessariamente, um marco na vida. Pelo número em si, eu acho. Porque, na verdade, não há nada que mude com a folha do calendário.
Lembro-me muitas vezes de ser mais miúda e, olhando para pessoas com, por exemplo, 25 anos, achá-los o máximo e imaginar como seria eu com aquela idade. Nas minhas fantasias seria certamente "mais crescida" do que me sinto hoje. Seria mais independente e confiante, teria passeado e conhecido mais lugares e pessoas, lido mais livros e visto mais filmes, passaria mais tempo com a família e os amigos, teria um emprego de sucesso, uma casa, uma serie de animais de estimação, quem sabe até filhos...
A verdade é bem difente e nem sempre tão cor de rosa como a imaginei, mas ainda bem. Porque, assim, é também mais rica, desafiadora e interessante.
O dia em que fiz 25 anos foi um dia feliz. Passado junto de algumas das pessoas que contam verdadeiramente, recebendo telefonemas e mensagens de outras que estavam longe. E os melhores presentes foram, como sempre, os mais simples e surpreendentes: uma chamada às 0 horas de outro fuso horário, um bolo de anos delicioso, um jantar com amigos que alteraram toda a sua vida para poderem estar presentes, um comentário on line que deixa os olhos brilhantes...
No fundo, o balanço destes meus primeiros 25 anos não podia ser mais positivo. E, segundo as contas do meu querido avô, ainda terei mais uns 70 pela frente. Venham eles e tudo o que tiverem para me ensinar!

Monday, October 26, 2009

Saturday, October 24, 2009

Novo anúncio Pingo Doce

Tenho sentido solidariedade quando comento o quão irritante é este anúncio, que caiu na rádio e televisão qual praga de gafanhotos. E fiquei satisfeita ao ver que o Bruno Nogueira também é sensível a esta problemática ;)

Wednesday, October 21, 2009

Para a F.

Esta noite a cama 10 tinha uma nova ocupante. Ao fim de 3 meses. E pensei em ti... em como estarias a passar a noite na tua nova casa.
Passam muitas pessoas por aquelas camas, pelas nossas mãos... mas há sempre algumas que marcam, pelas mais variadas razões. Nem sempre o seu final é o mais feliz, pelo que as recordações são muitas vezes revisitadas com uma pontinha de angústia ou tristeza. Outras vezes arrancam gargalhadas as memórias de histórias absolutamente hilariantes que pautam os turnos de quem trabalha com uma população muito idosa, muitas vezes desorientada e agitada, e quase sempre com hábitos e crenças de um tempo muito distante da nossa juventude e pretensa cientificidade.
Mas tu, F., marcaste-me principalmente porque, perante um (quase) final, renasceste para agarrar com toda a força a nova oportunidade que a vida te deu.
Chegaste com um diagnóstico de caso social, apenas. Desorientada, agitada, revoltada. Trazias contigo um rol de histórias de miséria humana, escurecidas por antecedentes de alcoolismo, conflitos familiares, má fortuna e desespero, que foste deixando conhecer aos poucos, à medida que foste voltando a ter consciência de ti e começando a confiar nos outros. Com o tempo, a descoberta de um diagnóstico médico importante, que necessitou de investimento, tempo e cuidados diferenciados para resolver. 3 meses passados e muitos laços criados com uma equipa que, ora risonha, ora furiosa, se rendeu ao teu encanto, feito de espontaneidade e genuinidade.
Recordo uma manhã de domingo em que tive que te imobilizar porque teimavas em te levantar e querer ir ao banco, repuxando constantemente os fios da alimentação parentérica no teu frágil catéter central... Lembro-me de te ver tremer com 39º que não cediam ao anti-pirético e me passar pela mente se, depois de tudo, sobreviverias... De pousares para as fotos orgulhosa da tua sonda nasogástrica... Das tuas unhas pintadas, das tuas piadas, das tuas botas de cano alto... De me confessares que quando saísses, se te sentisses naufragar, saberias que ali terias sempre a quem recorrer...
Não sei quando começámos a tratar-te por tu. Sei apenas que é algo extremamente raro, mas que contigo faz todo o sentido.
Ontem saíste carregada de sacos de compras e presentes, mas de lágrimas nos olhos. Prometeste voltar na 5.ª feira, voltar todas as semanas, a visitar os amigos que ali fizeste. Prometi que te vou visitar e tenciono sinceramente cumpri-lo.
Estarás sempre connosco, com cada um e com todos, enquanto equipa. Não só como um sucesso do nosso trabalho, mas como alguém que entrou nas nossas vidas e não saiu só porque teve alta.
O teu agradecimento é sincero. Sente-se no teu abraço, lê-se nas palavras simples que escreveste e nós orgulhosamente afixámos na nossa sala de trabalho. Tiveste, sem dúvida, a segunda oportunidade que muitos pedem à vida e tão poucos conseguem. Mas a nossa maior recompensa será ver que a sabes aproveitar.
Até sempre, querida F.

Friday, October 16, 2009

Lisboa. Fim de tarde. Beira rio.

Já não és a cidade que estranha e sufoca. A tua luz ensina a amar, até que as gaivotas do Tejo falem a mesma língua das gaivotas do meu mar.

Friday, September 18, 2009

Bússola eleitoral

Há que fazer este exercício. Dá que pensar e os resultados podem ser, por vezes, surpreendentes. O meu foi!

Acertar com a vida...

"Bem sei que há trolhas escritores,
de trato estucadores e serventes poetas;
e poetas que são verdadeiros pedreiros das letras.
E canta em arte genuína o pescador humilde,
a varina modesta;
e tanta vedeta devia dedicar-se à pesca.

Por não fazer o que mais gosto
eu canto com desgosto, farto de aqui estar;
e algures sei que alguém mal disposto
ocupa o meu lugar.
Ninguém está bem com o que tem...
é sempre o que vem que nos vai valer;
porém quase sempre esse alguém não é quem deve ser.

E é a mudar que vos proponho!
Não é um poço medonho em negras utopias;
é tão simples como mudarem de posto na telefonia.
Proponho que troquem convosco e acertem com a vida!"

Canção ao lado, Deolinda

Deolinda



Esta nova banda é, para mim, uma das mais originais do panorama musical português da actualidade. O cd é uma sucessão de agradáveis surpresas, numa combinação inteligente da sonoridade do fado e da música popular portuguesa com apontamentos de modernidade.As letras, por seu lado, estão repletas de conteúdo, situando-se algures entre o sentido, o divertido e o irónico, mas sempre longe da lista de rimas vazias que tantos autores publicam.

Thursday, September 17, 2009

O meu Alentejo


Aqui ouviste histórias, descobriste espaços, cores, cheiros e paisagens da menina pequenina que por aqui cresceu... E foi tão bom reencontrar contigo estes pedaços do meu caminho!

Thursday, September 3, 2009

A morte, sempre a morte

A morte invisível e a morte que se antevê.
A morte que quase se deseja perante sofrimentos sobrehumanos, esperada durante 5 meses e que acontece quase inesperadamente, na véspera de um dia que marcava uma mudança na vida.
A morte que choca e comove. Lenta, de um corpo que parece já cadáver e que acolhe uma mente que tristemente desconhece tantas razões.
A morte dolorosa, cuja dor se alivia, numa intervenção que orgulhosamente a transforma num momento sereno e, assim, mais digno.
Antes, durante, depois... As dúvidas, as incertezas, o sentimento de impotência (ainda, porventura sempre). A reflexão nesse momento único, impessoal, intransmissível e irrepetível.
Quando eu morrer, gostava de dar por isso, mas sem dor. E mais ainda: antes de morrer, gostava que me deixassem saber porquê.

Monday, August 17, 2009

Abaixo os contos de fadas

Há muito tempo que um ou outro acontecimento me faz revisitar uma (pseudo) decisão antiga: quando tiver uma filha, não lhe vou contar histórias que metam ao barulho príncipes encantados. Recuso-me.
Este tipo de histórias tem condicionado as mentes das pobres miúdas durante gerações. Passamos a adolescência e o início da idade adulta a sonhar com um qualquer romântico montado num cavalo branco (que pode, afinal, ser uma reles bicicleta ou um modesto carro utilitário), que nos resgate do nosso mundo de conto de fadas onde vivemos disfarçadas de mulheres modernas, emancipadas e independentes... até batermos demasiadas vezes com a cabeça e finalmente percebermos (perto dos 30, as mais perspicazes) que não existe semelhante mito.
Talvez se não fossem as histórias infantis - e porventura alguns filmes hollywoodescos também - uma querida amiga minha não estaria a sofrer como está, à espera de gestos e palavras que não chegam, de respostas e certezas que ninguém lhe consegue dar... Enfim, de cenas vistas e imaginadas milhões de vezes mas que, na vida real, tão raramente saem bem antes dos 2 615 749 takes.
Porque não há sequer ensaios, guiões, cenários, terras de fantasia, poções mágicas ou beijos que nos acordem da dor, nos apaguem as mágoas ou façam esquecer o amargo sabor da desilusão.
O meu desejo? (Fortemente condicionado por todos os contos que me foram contados e lidos, bem como por todos os que eu li por livre e espontânea vontade, entenda-se.)
Que, por muitas voltas que a sua história pessoal ainda dê e por mais avanços e recuos que ainda estejam escondidos nas cenas dos próximos capítulos, ela possa apenas encontrar um final feliz...

Sunday, August 16, 2009

Raul Solnado

Não criei nenhum post sobre o desaparecimento do Raul Solnado, aquele que todos os portugueses parecem tratar por "tu" mas que foi um verdadeiro senhor: ecos da sua proximidade com cada um dos que cresceu a vê-lo e a rir com ele.
Continuaria, provavelmente, sem escrever sobre este tema tantos dias passados já sobre o sucedido, mas acontece que hoje me deparei com uma informação à qual não consigo ficar indiferente: a frase que Raul Solnado disse desejar ter como epitáfio.

"Aqui jaz Raul Solnado, muito contra sua vontade."


Tão característico, tão simples, tão grandioso, tão irónico, tão sentido... Dispensa mais comentários.


Wednesday, July 1, 2009

Sounds so familiar...

Everybody thinks that
Everybody knows about
Everybody else
But nobody knows anything about themselves
Because they're all worried about everybody else.

(Jack Johnson, Wasting Time)

Monday, June 29, 2009

"Se um sonho de esperança te surgir, não creias nele, porque tudo é nada, e nunca vem aquilo que há-de vir" (F. Pessoa)

Há vidas que trazem em si um sopro de esperança, que nascem embaladas em nuvens de sonho e ondas de cor. Mas há acontecimentos que as desviam por caminhos tortuosos, as comprimem e as esmagam. Como se viver fosse sofrer, como se as escolhas em determinado momento deixassem de nos pertencer e algo maior manobrasse os nossos passos, sufocando a fé.
Há quem se resigne e há quem lute, há quem resista e há quem refute. E, apesar do incansável esforço, chega o dia em que nada mais resta do que ceder e vergar ao peso desse fardo demasiado pesado que é viver uma vida que não mais se consegue reinventar e que em nada corresponde à que se desejou...
Até que tudo se desvanece, tal como havia começado: num sopro.

Je t'aime!



Paris, Maio 2009

Friday, June 26, 2009

Michael Jackson

Goste-se ao não, a verdade é que foi uma figura incontornável da música com repercussões mundiais. Marcou uma geração e deixa como legado a sua música e a sua influência no trabalho de tantos outros nomes.
Não sou fã, nunca fui. Mas a notícia da sua morte não me deixa indiferente e desperta uma memória remota da minha infância: um grupo de "mortos vivos" a dançar uma coreografia complexa e engraçada na televisão, ao ritmo de uma canção que ficava no ouvido.
Para lá das polémicas e tópicos pessoais, foi inegavelmente um artista completo. Compositor, cantor, bailarino, entertainer... e certamente eterno.

Thursday, May 28, 2009

À minha maneira

Ligo o leitor da sala e já há um cd lá dentro: Xutos. É do meu pai. Resolvo ouvir um bocado e... Cá está! Como é que eu nunca ouvi devidamente esta letra?! É isto mesmo. É este o espírito de que preciso para enfrentar os próximos dias.

Já sei que hei de arder na tua fogueira
Mas será sempre sempre à minha maneira
E as forças que me empurram
E os murros que me esmurram
Só me farão voltar
À minha maneira

O Sol chegou finalmente

O Sol chegou e acordou todos os insectos. Esvoaçam e tecem as suas teias, colam-se às paredes brancas e às peles transpiradas.
A cidade sufoca. As ruas estão desertas depois do almoço e as paredes caiadas das ruas estreitas cegam. O calor abafa, o corpo é atraído para o areal que escalda a planta dos pés e contrasta com a água ainda gelada. A gaivota atrevida delicia-se com as cerejas dos mais distraídos e patrulha o espaço que, afinal, é seu.
Quando o dia termina e a noite cai abre-se a janela de par em par. Ela fecha os olhos e escuta: ouve-se o mar.

Saturday, April 18, 2009

E o que é que sabia mesmo bem por estes dias? Um pouquinho de Sol... Isso é que era!

Thursday, April 9, 2009

Filmalhaço

Gran Torino entrou directamente para o top dos filmes da minha vida.
É um filme sobre uma sociedade em mudança, sobre racismo e xenofobia, multiculturalidade, preconceito e tolerência.
É um filme que mostra que quando a violência é o padrão e a agressão gera reacção, é preciso coragem e inteligência para escolher usar outras armas.
É um filme que fala de princípios, de família, de comunidade, de amizade. Do valor do trabalho e do crescimento, de integridade e humanidade.
É um filme que nos ensina sobre a vida e sobre a morte, que faz sorrir e comove, que dá que pensar.
Clint Eastwood positivamente supreendente, como sempre. Um clássico, como um Gran Torino.

Berlusconi no seu melhor

Da última vez que ouvi, o balanço do simo em Itália e suas sucessivas réplicas era de 250 mortes, mais de 1 000 feridos graves e 17 000 desalojados.
Estes últimos encontram-se em tendas comunitárias, enquanto lidam com uma serie de dificuldades, ente elas o choque da destruição a que assistiram, o luto pelas perdas que viveram e o medo de um futuro próximo que se lhes assemelha triste e incerto.
Neste contexto, as declarações do primeiro ministro italiano são de uma insensibilidade e futilidade assustadoras. Do alto do seu conforto, proclamou que "não lhes falta nada. Têm cuidados médicos, comida quente... Claro que o actual lugar de abrigo é provisório, mas há que encarar a situação como um fim-de-semana no parque de campismo”.
No entanto, o senhor Berlusconi não se junta aos seus queridos compatriotas numa churrascada no grande e divertido parque de campismo neste fim de semana de Páscoa... por razões de segurança. Claro.

Tuesday, April 7, 2009

Esta noite houve um homem que não dormiu. Passou a noite em claro, a pensar se a sua esposa ainda estaria viva. Deve ter revisto cenas da sua vida em comum centenas de vezes ao longo das horas que se arrastaram na noite escura e aposto que chorou.
Do outro lado da cidade, a mulher permanecia num outro leito, rodeada de fios e tubos enquanto o seu corpo contrariava todas as previsões e lutava pela vida.
Ao longo da madrugada uma enfermeira passava junto dela, atentava nos valores que piscavam em luzes coloridas no ecrã do monitor e supreendia-se.
Quando a manhã chegou, o homem saiu de casa, rumo ao hospital, na ânsia de saber mais notícias.
Ao mesmo tempo, a enfermeira saíu e foi dormir. Sonhou com eles.

Sunday, April 5, 2009

Dúvidas

1. Moscavide-Laranjeiras, 18 horas: uma hora e um quarto de caminho em pára-arranca. Como é que há gente que aguenta isto todos os dias, duas vezes por dia?!

2. Para onde foi a palavra empenho? Saíu do dicionário português, saiu de circulação? É que por todo o lado as pessoas parecem ter aderido ao fenómeno do "empenhamento"...

Friday, March 27, 2009

Maybe we're just too young to keep good love from going wrong...

Desliguei o telefone triste, por ti. Mas é como disseste, ainda bem que aconteceu, só foi pena não ter acontecido durante mais tempo. Ficam um monte de porquês a pairar e vais ter de os deixar pousar lentamente até que sejas capaz de os pisar no chão, sem dor. Até lá, não vale a pena pensar muito; há que guardar o que se ganhou e seguir em frente como se pode.
But we'll grow old!

Gosto.


Porquê? Nem sei definir ao certo... Mas ao vê-la, a tantos km de distância de casa, fiquei imediatamente rendida. Desperta-me muitos sentimentos, sugere-me uma serie de ideias. Deve ser este o poder da arte: tocar-nos, simplesmente. Tal como a mão que se enlaça na nossa.

Wednesday, March 11, 2009

Sobressalto

A espada que tens suspensa sobre o teu pescoço desceu hoje mais um pouco em direcção à pele, lembrando-nos a todos que continua lá, escondida no escuro, mesmo quando baixamos a guarda e nos deixamos envolver pela ilusão do bem. Mas, de repente, pareceu conter-se.
Um susto? Um aviso? Com poucas certezas, resta-te aguardar e desejar que o brilho da sua lâmina se torne invisível por muito mais tempo (porque para sempre é pedir demais, não é?).
Pudesse eu e correria de peito aberto contra ela, para que não mais nenhum golpe fosse desferido sobre ti.

Saturday, February 28, 2009

Teatro em Fevereiro

Acto I: Os Maias

Para quem, como eu, gosta da obra de Eça de Queiroz, o Teatro da Trindade é um destino a não perder. Em cena, a recuperação de Os Maias numa encenação de Rui Mendes.
A acção começa quase no final do enredo, no sarau de solidariedade ocorrido precisamente no Teatro da Trindade e desenrola-se numa peça viva, que deixa aflorar a crítica social sempre tão actual do autor.
Todos conhecemos a história, todos sabemos como vai terminar, mas ainda assim vamos assistindo a cada cena com a mesma curiosidade da primeira vez.
Tendo relido Os Maias várias vezes, a imagem mental que criei de cada personagem nem sempre coincidiu com a imagem dos actores que as representaram, mas foi óptimo
redescobrir esta obra prima da nossa literatura sob outro prisma e ouvir proferir, de viva voz, deixas tão familiares e tão ilustrativas da ironia cirúrgica do velho Eça.

Acto II: Caveman - mim caçar, tu colher!

Absolutamente genial!
Em cena no Teatro Armando Cortez, Caveman é um verdadeiro fenómeno mundial que leva qualquer um às lágrimas.
Jorge Mourato, a solo no palco, explica as diferenças entre homens e mulheres e analisa as relações amorosas entre os dois sexos com base na função de cada um no início da História da Humanidade: homens caçadores, mulheres recolectoras. E não é que muita coisa se aplica?
Sai-se com as bochechas e a barriga doridas de tanto rir e a (quase) convicção de que em cada um de nós vive um homem ou mulher das cavernas.

Friday, February 20, 2009

Porque faço eu greve?

Faço hoje greve sem esperança, pois não acredito que esta vá mudar coisa alguma. Mas ainda assim faço greve para que mais um número se junte à lista dos insatisfeitos e expresse a tamanha desilusão que a profissão é neste momento para mim, a par de milhares de outras pessoas.
A minha carreira não existe. Estou condenada a trabalhar anos a fio sob um contrato de 6 meses ou de 1 ano que se renova constantemente (ou não!) sem que qualquer lei ou ordem me conceda um vínculo a uma instituição e me acenda uma luz ao fundo do túnel que me permita tomar decisões na minha vida e lançar bases para crescer.
Sou licenciada, mas pagam-me como se fosse bacharel. Faço horas extraordinárias mas não me pagam mais do que as 8 horas diárias. Trabalho por turnos, mas querem deixar de me compensar em termos monetários este esforço que a pouco e pouco me mina a saúde e me inibe a vida social.
Invisto na minha formação unicamente à custa do meu suor e da minha carteira, sendo que o dinheiro e tempo gastos são compensados exclusivamente com o sentimento de satisfação pessoal, já que a instituição para quem trabalho não a reconhece.
Trabalho sob a pressão constante de ter sob minha responsabilidade a integridade e a vida de demasiadas pessoas, sempre muitas mais do que qualquer recomendação para a prestação de cuidados de qualidade estipula.
Estou exposta a uma série de riscos biológicos e sou constantemente desrespeitada por doentes e seus familiares, que tentam frequentemente tratar-me como sua criada, não reconhecem minimamente o valor do meu trabalho e avaliam a sua qualidade pela hora a que abre a porta do serviço para que comece a visita, sem sequer pararem para pensar se já consegui almoçar, jantar, beber um copo de água ou ir à casa de banho.
Na marcação das minhas férias pesam substancialmente mais os interesses do serviço e da instituição do que a minha vontade pessoal. Perco noites, fins-de-semana, feriados e dias festivos a trabalhar, mas só mesmo os que me são mais próximos sentem o impacto que esse tipo de privação tem na vida de uma pessoa.
Milhares de colegas meus estão no desemprego, pese embora a grande carência de recursos humanos que se faz sentir no local onde trabalho e em muitos outros. Muitos emigram, outros trabalham literalmente de graça, alguns ainda redireccionam a sua carreira para profissões indiferenciadas, como caixeiro de supermercado. Mas, alheias a tudo isto, as faculdades continuam a licenciar todos os anos milhares de novos profissionais, muitos deles em condições de formação duvidosas mas todos cheios de esperança de encontrarem no mercado de trabalho acolhimento e aceitação.
Desiludir-se-ão, assim como eu me desiludi. Porque não nos é dado tempo nem espaço para exercer sequer metade daquilo que sabemos fazer.
Hoje trabalharei o meu turno por completo, com a mesma dedicação de todos os dias, porque apesar da minha frustração, há sempre alguém que não pode deixar de ser cuidado, aconteça o que acontecer. Mas constará que estive em greve. Porquê? Acima de tudo, porque sinto que não tenho futuro.

Tuesday, February 10, 2009

SOS Lx

Este Inverno chuvoso deixou as ruas de Lisboa numa lástima: são buracos atrás de buracos. A maioria até já lá estava no Verão, mas o desleixo e o mau tempo transformaram-nos em verdadeiras crateras.
É feio, é perigoso e chega mesmo a ser triste que a capital do meu país tenha as suas principais artérias de circulação tão mal conservadas.
Nem em ano de eleições isto muda, caramba?

Monday, January 26, 2009

Avé Burocracia!

O enfermeiro que cai e se magoa (felizmente sem gravidade) no desempenho das suas funções e sem que tivesse desrespeitado nenhuma regra de segurança que conduzisse ao acidente tem que:

- Mostrar o cartão de utente no secretariado da urgência onde se apresenta depois de terminado o seu turno, mesmo tendo ficha na instituição e dado todos os dados e mais alguns aquando da contratação;
- Perder meio dia de folga no serviço de saúde ocupacional da instituição a preencher impressos;
- Correr atrás da médica que a atendeu na madrugada da véspera (e que se desconhece em que serviço trabalha ou se sequer trabalha na instituição ou vai lá apenas fazer bancos) para que a mesma preencha e assine um impresso, mesmo quando o registo do episódio de urgência está feito de forma completa no sistema informático, incluindo o motivo de recorrência, os sintomas, os exames pedidos e realizados e a terapêutica prescrita;
- E ter paciência para cumprir todos estes requisitos, sob pena de não ficar com o registo de "acidente de serviço" (não tendo direito à assistência respectiva em caso de complicação posterior) e de pagar à instituição todos os custos inerentes.

Serve recordar que a queda foi acidental, sem qualquer culpa do enfermeiro, que se encontrava a trabalhar para a instituição e que, até agora, só teve como ganhos deste processo dor, incómodo e perda de tempo livre e descanso?! Não. É o sistema, dizem.

Thursday, January 22, 2009

By Gavin Rossdale

A thousand times I've seen you standing Gravity like lunar landing You make me want to run till' I find you I shut the world away from here I drift to you, you're all I hear As everything we know fades to black Half the time the world is ending Truth is I am done pretending I never thought that I Had anymore to give You're pushing me so far Here I am without you Drink to all that we have lost Mistakes we have made Everything will change But love remains the same I find a place where we escape Take you with me for the space The city buzz sounds just like a fridge I walk the streets through seven bars I have to find just where you are The faces seem to blur They're all the same Half the time the world is ending Truth is I am done pretending I never thought that I Had anymore to give You're pushing me so far Here I am without you Drink to all that we have lost Mistakes we have made Everything will change But love remains the same So much more to say So much to be done Don't you trick me out We shall overcome It's all left still to play We should've had the sun Could have been inside Instead we're over here Half the time the world is ending Truth is I am done pretending Too much time too long defending You and I are done pretending I never thought that I Had anymore to give You're pushing me so far Here I am without you Drink to all that we have lost Mistakes we have made Everything will change Everything will change I, oh I, I wish this could last forever I, oh I, As if we could last forever Love remains the same Love remains the same.

Wednesday, January 21, 2009

A dor

"No nosso coração, afectos, esperança, ilusão, apertavam-se, davam espaço, para que a dor, no meio, se aconchegasse, ombro a ombro, no mesmo plano, com o mesmo valor. Para o chão atirávamos a esperança, de seguida varríamos a poeira da fé. Às vezes estava tão cansado, tão cansado... (...)
A dor comia bocadinhos de nós. Partes de mim deixaram de existir. A certeza que fica é que para a vida valer a pena é necessário amar e ser amado, e ter muito cuidado com o cristal de que os outros são feitos. Os outros sim, que nós somos de aço. Excepto, claro, quando choramos."

Sinto Muito, Nuno Lobo Antunes

Sinto Muito

Terminei hoje de ler um livro de Nuno Lobo Antunes, um conjunto de crónicas, confissões e retalhos da sua experiência enquanto Neurologista e Pediatra e, sobretudo enquanto homem que vê o mundo através dos olhos de médico.
Gostei do livro, acima de tudo pela humanidade das reflexões que o autor faz e as quais se resumem de forma perfeita no título Sinto Muito.
Sentir implica colocarmo-nos no lugar do outro, calçarmos os seus sapatos, despirmos a nossa bata e deixarmos transparecer a nós próprios o que a maior parte do tempo deixamos repousar latente sob a pele: sentimentos, sons, dores, palavras, lágrimas, cheiros... propriedades que nos impedem de nos tornarmos indiferentes e que nos aproximam das pessoas de quem cuidamos.
Também eu sinto muito, muitas coisas, muitas vezes, muitas horas dos meus dias... e quero continuar a sentir, sob pena de perder quem sou.

Friday, January 16, 2009

A frase da semana

"Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde acabam."

Escandalosa. Infeliz. Vergonhosa. Ridícula.
Esta afirmação foi proferida por D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. Um alto representante da igreja católica demonstra tamanha intolerância religiosa que lança mais uma pá cheia de lama sobre o meu respeito pela instituição que, ao invés de honrar os princípios do amor, igualdade, tolerância e fraternidade, apela à desunião.
Porque é que as nossas igrejas estão vazias? Porque ninguém encontra Deus nestes "sermões".

Friday, January 2, 2009

Resoluções de ano novo... ou não

O início de um novo ano é sempre altura de pedir desejos e enumerar resoluções que, na maioria dos casos, as pessoas acabam por nem fazer muita questão de cumprir. Pegando no ridículo da questão, Bruno Nogueira assina hoje no DN uma verdadeira caricatura de fabulosas dicas para viver melhor em 2009. Chorei a rir ao lê-las, pelo que resolvi partilhar:

"Não fazer promessas para o ano que vem é logo à partida a melhor maneira de encetar o ano que vem.
Mentir é feio, especialmente em cima de uma cadeira com a boca atestada de passas.
Nesse caso é só deprimente.
Por isso, comece os doze meses que se avizinham da melhor maneira, com os desejos possíveis de acordo com o indicador de bateria que lhe aparece na força de vontade.
Aponte:

Engordar.
Mas engordar com tudo o que pareça um ataque cardíaco servido num prato.
E acompanhar as refeições com um copo de óleo Fula fresquinho.
Fumar mais. E melhor.
Fazer o mínimo de desporto possível.
Ou menos ainda.
Não visitar os amigos que insiste em anestesiar com um: "temos de combinar um jantar pá!"
Se esse jantar não aconteceu em 2008 tem tudo para não acontecer em 2009.
Não dar mais atenção aos filhos.
Eles entretêm-se bem com o Canal Panda.
Lembre-se que o próprio animador que está dentro do fato do Panda já perdeu vinte quilos por estar num fato que nunca foi pensado para se usar em todas as estações do ano. Desmaia de quinze em quinze minutos, numa média cada vez mais apurada. Não o vamos deixar agora perder o ritmo.
Ser mais nervoso no dia a dia.
Se possível conduzir a cento e noventa nas localidades e puxar o travão de mão já em cima das passadeiras, a roçar com o pára-choques na bengala de um idoso, só para mostrar quem manda.
Conduzir sempre, mas sempre na faixa da esquerda.
A da direita é para meninos e você não gastou o pib do Ruanda num carro para marcar passo na auto-estrada.
Buzinar (muito) mal desconfie que o sinal vai ficar verde.
Não perde nada em prender um palito na buzina durante todo o vermelho.
Gastar as poupanças todas, e pedir entre três a cinco empréstimos ao banco.
É tempo deles.
A crise não passa de um boato, criado numa qualquer revista cor-de-nada.
Não ir ao médico ver aquele sinal que cresceu dez centímetros nos últimos vinte minutos.
Deve ser só uma santola que lhe caiu mal.
A santola é tramada.
Perder tempo a ler artigos encomendados no "Diário de Notícias".
Alguém do outro lado o teve de escrever.

À partida isto bastará.
Se não for há-de ter muitos anos para elaborar diferentes listas.
A não ser que não seja da tal santola."

Pelo menos se não se cumprirem estas resoluções de ano novo, não me parece que se tenha grande peso na consciência... 'Tá bem
visto.