Tuesday, December 30, 2008

Venha 2009.

Numa imagem, 2008 foi: um dia de chuva.

Um desejo para 2009: o arco-íris.

Monday, December 29, 2008

Intempérie mental

Peço desculpa a todos os transeuntes da nossa capital, mas o nevoeiro que esta noite se abateu sobre Lisboa e tanto dificulta a visibilidade emana directamente de mim: um corpo dorido que constantemente se sente próximo do limite, uma mente confusa e esgotada em contínuo desassossego, uma alma encolhida algures no meio da névoa, numa teimosia disfarçada de esperança que insiste em acender a ténue lanterna no meio da noite escura... Mas o potencial de uma boa noite de sono é grande, por isso prevê-se franca melhoria das condições meteorológicas para amanhã... ou seja, para mais logo.


Monday, December 22, 2008

Há golpes injustos nesta vida

Ocorrem-me hoje as palavras do T. no outro dia, quando visitou o serviço: "a morte aqui é uma realidade". É verdade. Ela é uma ameaça que se concretiza com muita frequência no meu trabalho, que se repete mas consegue ser sempre única, à qual sobrevivo dia após dia sem nunca me habituar.
Só que a morte não se circunscreve ao interior do hospital ou do serviço onde trabalho. Ela é uma realidade em qualquer parte. E pelo segundo ano consecutivo infiltrou-se indirectamente na minha vida nesta época festiva, fazendo sofrer pessoas que amo muito e para quem o Natal se torna, assim, menos luminoso e doce.... para sempre.

Thursday, December 18, 2008

Já é Natal!


Já é Natal, há música e iluminações nas ruas. Há pinheiros enfeitados e presépios um pouco por todo o lado e também em minha casa. Há presentes que se compram com gosto, não numa desenfreada fúria consumista, mas antes com o sincero desejo de mimar aqueles que amamos e que estiveram ao nosso lado ao longo do ano que agora chega ao fim.
Como uma criança, sou contagiada com este entusiasmo. Trauteio as canções que parecem só fazer sentido nesta época e deixo-me estar, perdida no tempo e espaço, enroscada no quentinho da sala enquanto vejo as luzes piscar na árvore de Natal.
Mentalmente visito recordações de outros natais e, acima de tudo, agradeço a oportunidade de também o próximo ser passado na companhia da minha família, longe do trabalho. Será, sem dúvida, a minha melhor prenda.

Wednesday, December 17, 2008

Olhá-la, deitada na cama, e não a ver a ela mas a outro alguém, muito meu. Nunca pensei que fosse tão difícil cuidar assim. A projecção é inevitável e encará-la, embora me faça sangrar por dentro, é uma aprendizagem que preciso fazer. Que quero fazer.
Falou-me com saudade da vida sonhada que a doença lhe roubou, falou-me da filha de 24 anos (haverá coincidência mais cruel?), do marido que nunca a abandonou, da mãe e do pai, que eu conheci, e que continuam a ser um porto seguro.
Reconheci-lhe uma familiar vida interior, acorrentada a um corpo que não quer responder, a mesma força de vontade e a mesma boa disposição que vencem todas as adversidades mas não impedem os olhos de ficar húmidos quando se confrontam com uma nova incapacidade.
Queria abraçá-la com força, dizer-lhe o quanto é amada, o quanto o seu espírito jovem permanece vivo aos meus olhos, o quanto continua a ser bonita e o quanto é uma benção estar a seu lado... queria chorar com ela, dizer-lhe nunca estará sozinha, consolá-la do fardo com que vida tão injustamente a castigou.
Mas a verdade é que a minha vontade de consolo vai muito além daquele quarto e daquela doente. A empatia com o seu sofrimento não podia ser mais sincera, mais vivida... ao mesmo tempo que vê-la assim me assusta e me dá vontade de negar que algum dia alguém que amo tanto possa estar na mesma situação. Mas pode. Certamente irá. E por mais esclarecida que esteja não estou preparada para esse dia. Acho que nunca estarei... acho que nunca estaremos.

Tuesday, December 2, 2008

Lê-me. Sublinha-me, resume-me, comenta-me, critica-me. Folheia-me sem pressas. Corrige todos os erros, apaga as entrelinhas desnecessárias e rasga todos os rascunhos inúteis. Não há sintaxe, gramática ou ortografia que te superem. Porque só o teu nome consta do meu dicionário e sei que só quando terminares serei capaz de virar a página, encarar as linhas em branco e voltar a ser um capítulo por escrever.

Monday, December 1, 2008

(Mais um) Adeus

Estou de férias, longe do serviço e de Lisboa... pelo menos fisicamente.
Ontem recebi uma mensagem triste. A João dava-me conta da morte de um doente que me era muito querido.
Porquê o meu carinho especial pelo Sr. C.? Nem sei explicar. Sei apenas que consegui estabelecer com ele uma relação muito especial, pautada pelo humor mas também por momentos de grande seriedade. Ouvi dele muitas confissões; ele arrancou de mim muitos sorrisos.
E, ao ler a mensagem, assaltou-me uma serie de flashbacks. O dia em que o alcunhei de tintinzinho, a noite em que foi apanhado a voltar da copa ainda com o queixo sujo de iogurte, o almoço em que lhe levei um café "às escondidas", a tarde em que me apresentou à filha como uma amiga, a manhã em que o reencontrei no segundo internamento e fui recebida com um caloroso abraço... a última vez que o vi, imobilizado na cama, em que me tratou pelo meu nome e fez aquele ar de desalento.
Contam que parou durante os cuidados de higiene. Assim, de repente, sem nada que o fizesse prever. As tentativas de reanimação desenrolaram-se por meia hora, sem sucesso. Mas quando tudo chegou ao fim, o Tiago reparou naquele sorriso característico que continuava a esboçar...
Não podia ser de outra maneira. Até a morte ele fez questão de tratar com a leveza de tragico-comédia que adoptou para a sua vida.