Saturday, June 9, 2007

Thumbing my way

Colei há pouco um post-it sobre o poder da música em nós, escrito já há algum tempo e esquecido algures dentro de um caderno. Resolvi agora acrescentar outro, com uma música que tem, verdadeiramente, poder sobre mim. É dos Pearl Jam (que, a propósito, tocaram ontem em Oeiras!). Podia pôr aqui qualquer uma das minhas favoritas... Black, Better Man, Last Kiss, Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town (uff!), Nothingman, Light Years, Yeloow Ledbetter, Come Back...Na verdade todas me dizem algo!
Mas não sei porquê hoje ao acordar lembrei-me de ter lido algures que num concerto o Eddie Vedder chorou perante o público, emocionado por milhares de pessoas acamparem durante dias para os verem actuar, enquanto eles dormiam confortavelmente num hotel e, à mistura, veio esta múscia que não me sai da cabeça... Aqui fica!


I have not been home since you left long ago

I'm thumbing my way back to heaven

Counting steps, walking backwards on the road

I'm counting my way back to heaven

I can't be free with whats locked inside of me

If there was a key, you took it in your hand

There's no wrong or right, but I'm sure theres good and bad

The questions linger overhead

No matter how cold the winter, theres a springtime ahead

I'm thumbing my way back to heaven

I wish that I could hold you

I wish that I had

Thinking bout heaven

I let go of a rope, thinking thats what held me back

And in time I've realized, its now wrapped around my neck

I can't see whats next, from this lonely overpass

Hang my head and count my steps, as another car goes past

All the rusted signs we ignore throughout our lives

Choosing the shiny ones instead

I turned my back, now theres no turning back

No matter how cold the winter, theres a springtime ahead

I smile, but who am I kidding?

I'm just walking the miles, every once in a while I'll get a ride

I'm thumbing my way back to heaven

Thumbing my way back to heaven

I'm thumbing my way back to heaven...

Thursday, June 7, 2007

Bandas sonoras

Ao longo da vida de cada um são muitas as canções que marcam momentos e períodos, que têm a capacidade de nos transportar no tempo, o poder de verbalizar os nossos sentimentos e trazer à flor da pele as mais diversas emoções (Singing my life with his words Killing me softly with his song Killing me softly with his song Telling my whole life with his words). Tal como nos filmes, também a vida tem banda sonora...
E é incrível a forma como uma mesma música faz parte da banda sonora das vidas de diferentes pessoas, de diferentes gerações (Yesterday Love was such an easy game to play Now I need a place to hide away); ou a forma como os pensamentos e sensações cantadas por alguém num cantinho do mundo, na sua língua, tocam de forma tão especial pessoas quem a ouvem a milhares de quilómetros de distância e que, muitas vezes, nem falam essa língua (Quand il me prend dans ses bras Il me parle tout bas, Je vois la vie en rose).
A música é uma expressão universal, parte de um património comum a toda a humanidade. Arrebata paixões (I've kissed your lips and held your hand shared your dreams and shared you bed I know you well, I know your smell, I've been addicted to you)... causa arrepios (you're in the arms of the angel may you find some comfort here)... move multidões (And there won't be snow in Africa this Christmas time The only gift they'll have this year is life)... cria revoluções (Get up stand up stand up for you rights)... desperta mentalidades (Another day, another change to get it right)... leva à euforia (Birthday party, cheesecake, jelly bean, boom! You Symbiotic, patriotic, slam book neck, right? Right It's the end of the world as we know it and I feel fine), conduz às lágrimas (I know you'll be the star in somebody else's sky but why can't it be in mine?)... une corações (O meu amor ensinou-me a partir nalguma noite triste)... cria hinos (One love One blood One life You got to do what you should)... sobrevive ao tempo, à distância, à mudança...
Não só os grandes compositores, não só as grandes bandas, até mesmo os pequenos jingles dos anúncios e genéricos das series da nossa infância (Tu andas sempre descalço Tom Sawyer...) fazem um qualquer "click" cá dentro quando começam a tocar.
Porque provocam estimulação do hipocampo, dirão alguns... eu digo apenas: porque nos tocam a alma.
(Agosto 2006)

Wednesday, June 6, 2007

Carta para Josefa, minha avó

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo – e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.
Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém.
Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrijada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos – e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti – e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava.
Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas – e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!”.
É isto que eu não entendo – mas a culpa não é tua.


José Saramago, in “Deste Mundo e do Outro"


Às minhas e a tantas outras avós com quem me cruzo todos os dias... que apenas não se chamam Josefa.

Cheira a Verão

Já viram a diferença que traz o calor, o Verão?
As pessoas andam mais bem dispostas, sorriem mais! Abandonam aquele ar cinzento e aquela postura encolhida dos dias de frio e chuva e parecem, sem dúvida, mais felizes!
As roupas são mais leves, mais coloridas... os dias são maiores... as crianças brincam mais na rua, os casais passeiam mais de mãos dadas, os velhotes trocam mais os centros comerciais pelas sombras dos jardins públicos... cheira a vida nas ruas!
Cheira a férias! E que saudades das férias grandes de Verão! Privilégio exclusivo dos estudantes, um grande património que perdi!
Agora as férias reduzem-se a alguns dias por cada seis meses... mas levantar cedo para ir trabalhar até já nem custa tanto quando este Sol entra pela janela e os senhores da rádio dizem que vamos ter muito bom tempo :)

Friday, June 1, 2007

Espírito Peter Pan




Hoje é dia da criança.


Acumulam-se as festas, os passeios, as reportagens na televisão dedicadas a este dia, dedicadas às crianças. E é realmente importante que se recorde o quanto elas são importantes e o quanto devem ser amadas e respeitadas, neste como em todos os dias do ano. Tal como todos os outros "dia de algo", acaba por se tornar um pouco comercial, é certo... mas ainda assim não deixa de ser um dia simpático.

E pode ser uma deixa para pensar no que é feito da criança que fomos um dia, ou onde estaremos a esconder a criança que (dizem) todos temos dentro de nós.

Se é sempre impossível resistir à energia e ao sorriso de uma criança, mesmo daquelas a quem a infância foi roubada pela miséria, pela guerra ou pela exploração, porque será que tantos adultos se esquecem de sorrir com a desculpa de que a vida não lhes corre bem?

Quem dera que todos nós conseguíssemos conservar o espanto no olhar quando vemos algo novo, a curiosidade de saber e conhecer mais, a coragem de questionar, a facildade de soltar uma gargalhada, a capacidade de descomplicar...

Às vezes parece que com a idade a maioria das pessoas deixa de distinguir as cores da vida e passa a vê-la a preto e branco, em tons de cinzento. Correm contra o relógio, com objectivos talvez, mas sem ideais, irritam-se com demasiada facilidade, passam o tempo a criticar e a lamentar-se, pouco sorriem, raramente elogiam algo ou alguém...

Se calhar sou eu que sofro da síndrome Peter Pan e gostava de não crescer... ou pelo menos de não crescer assim... Mas se não da síndrome, não me importava nada que pelo menos mais pessoas pudessem ser contagiadas pelo espírito de Peter Pan! O espírito do menino que teima em não crescer e continua a acreditar... acreditar em algo, em alguém... lutar por isso!

Eu continuo a acreditar que tal é possível não apenas na Terra do Nunca, mas também aqui, na nossa Terra.