Tuesday, December 30, 2008

Venha 2009.

Numa imagem, 2008 foi: um dia de chuva.

Um desejo para 2009: o arco-íris.

Monday, December 29, 2008

Intempérie mental

Peço desculpa a todos os transeuntes da nossa capital, mas o nevoeiro que esta noite se abateu sobre Lisboa e tanto dificulta a visibilidade emana directamente de mim: um corpo dorido que constantemente se sente próximo do limite, uma mente confusa e esgotada em contínuo desassossego, uma alma encolhida algures no meio da névoa, numa teimosia disfarçada de esperança que insiste em acender a ténue lanterna no meio da noite escura... Mas o potencial de uma boa noite de sono é grande, por isso prevê-se franca melhoria das condições meteorológicas para amanhã... ou seja, para mais logo.


Monday, December 22, 2008

Há golpes injustos nesta vida

Ocorrem-me hoje as palavras do T. no outro dia, quando visitou o serviço: "a morte aqui é uma realidade". É verdade. Ela é uma ameaça que se concretiza com muita frequência no meu trabalho, que se repete mas consegue ser sempre única, à qual sobrevivo dia após dia sem nunca me habituar.
Só que a morte não se circunscreve ao interior do hospital ou do serviço onde trabalho. Ela é uma realidade em qualquer parte. E pelo segundo ano consecutivo infiltrou-se indirectamente na minha vida nesta época festiva, fazendo sofrer pessoas que amo muito e para quem o Natal se torna, assim, menos luminoso e doce.... para sempre.

Thursday, December 18, 2008

Já é Natal!


Já é Natal, há música e iluminações nas ruas. Há pinheiros enfeitados e presépios um pouco por todo o lado e também em minha casa. Há presentes que se compram com gosto, não numa desenfreada fúria consumista, mas antes com o sincero desejo de mimar aqueles que amamos e que estiveram ao nosso lado ao longo do ano que agora chega ao fim.
Como uma criança, sou contagiada com este entusiasmo. Trauteio as canções que parecem só fazer sentido nesta época e deixo-me estar, perdida no tempo e espaço, enroscada no quentinho da sala enquanto vejo as luzes piscar na árvore de Natal.
Mentalmente visito recordações de outros natais e, acima de tudo, agradeço a oportunidade de também o próximo ser passado na companhia da minha família, longe do trabalho. Será, sem dúvida, a minha melhor prenda.

Wednesday, December 17, 2008

Olhá-la, deitada na cama, e não a ver a ela mas a outro alguém, muito meu. Nunca pensei que fosse tão difícil cuidar assim. A projecção é inevitável e encará-la, embora me faça sangrar por dentro, é uma aprendizagem que preciso fazer. Que quero fazer.
Falou-me com saudade da vida sonhada que a doença lhe roubou, falou-me da filha de 24 anos (haverá coincidência mais cruel?), do marido que nunca a abandonou, da mãe e do pai, que eu conheci, e que continuam a ser um porto seguro.
Reconheci-lhe uma familiar vida interior, acorrentada a um corpo que não quer responder, a mesma força de vontade e a mesma boa disposição que vencem todas as adversidades mas não impedem os olhos de ficar húmidos quando se confrontam com uma nova incapacidade.
Queria abraçá-la com força, dizer-lhe o quanto é amada, o quanto o seu espírito jovem permanece vivo aos meus olhos, o quanto continua a ser bonita e o quanto é uma benção estar a seu lado... queria chorar com ela, dizer-lhe nunca estará sozinha, consolá-la do fardo com que vida tão injustamente a castigou.
Mas a verdade é que a minha vontade de consolo vai muito além daquele quarto e daquela doente. A empatia com o seu sofrimento não podia ser mais sincera, mais vivida... ao mesmo tempo que vê-la assim me assusta e me dá vontade de negar que algum dia alguém que amo tanto possa estar na mesma situação. Mas pode. Certamente irá. E por mais esclarecida que esteja não estou preparada para esse dia. Acho que nunca estarei... acho que nunca estaremos.

Tuesday, December 2, 2008

Lê-me. Sublinha-me, resume-me, comenta-me, critica-me. Folheia-me sem pressas. Corrige todos os erros, apaga as entrelinhas desnecessárias e rasga todos os rascunhos inúteis. Não há sintaxe, gramática ou ortografia que te superem. Porque só o teu nome consta do meu dicionário e sei que só quando terminares serei capaz de virar a página, encarar as linhas em branco e voltar a ser um capítulo por escrever.

Monday, December 1, 2008

(Mais um) Adeus

Estou de férias, longe do serviço e de Lisboa... pelo menos fisicamente.
Ontem recebi uma mensagem triste. A João dava-me conta da morte de um doente que me era muito querido.
Porquê o meu carinho especial pelo Sr. C.? Nem sei explicar. Sei apenas que consegui estabelecer com ele uma relação muito especial, pautada pelo humor mas também por momentos de grande seriedade. Ouvi dele muitas confissões; ele arrancou de mim muitos sorrisos.
E, ao ler a mensagem, assaltou-me uma serie de flashbacks. O dia em que o alcunhei de tintinzinho, a noite em que foi apanhado a voltar da copa ainda com o queixo sujo de iogurte, o almoço em que lhe levei um café "às escondidas", a tarde em que me apresentou à filha como uma amiga, a manhã em que o reencontrei no segundo internamento e fui recebida com um caloroso abraço... a última vez que o vi, imobilizado na cama, em que me tratou pelo meu nome e fez aquele ar de desalento.
Contam que parou durante os cuidados de higiene. Assim, de repente, sem nada que o fizesse prever. As tentativas de reanimação desenrolaram-se por meia hora, sem sucesso. Mas quando tudo chegou ao fim, o Tiago reparou naquele sorriso característico que continuava a esboçar...
Não podia ser de outra maneira. Até a morte ele fez questão de tratar com a leveza de tragico-comédia que adoptou para a sua vida.

Wednesday, November 26, 2008

Doce amizade

Quando os dias se sucedem nublados e chuvosos, a desesperança domina o humor e as lágrimas parecem estar sempre apostos para desabar, acabando com toda a aparência que custa horrores a manter... há amigos que estão lá.

São os amigos que, entre a meia de leite e a torrada me lêem a mente e me mostram comprensão e apoio... São amigos que me ligam de propósito para me estimular e dizer que confiam em mim... São amigos que me presenteiam com um enorme chocolate a meio de um turno só porque sim... São amigos que me mimam e me permitem manter do lado de cá dessa linha tão ténue que me separa da insanidade de um quotidiano tantas vezes cruel.

Confesso que há alturas em que não consigo entender o que raio vocês me encontram para gostarem de mim como gostam. Mas a verdade é que a vossa amizade é um dos meus maiores orgulhos e é construída a cada dia com muita admiração e uma imensa ternura.

Convosco os dias são mais fáceis, as horas passam a voar, as gargalhadas não têm limite de decibéis e as conversas duram horas e horas.

O chocolate adoça-me a boca, vocês aquecem-me a alma. Obrigada.

Friday, November 21, 2008

Serenata distante

I'm finding my way back to sanity, again
Though I don't really know what
I am gonna do when I get there
Take a breath and hold on tight
Spin around one more time
And gracefully fall back to the arms of grace

'Cause I am hanging on every word you’re saying
Even if you don't want to speak tonight
That's alright, alright with me
'Cause I want nothing more than sit
Outside your door and listen to you breathing
It’s where I want to be


(Lifehouse, Breathing)

Tuesday, November 18, 2008

80 anos


Hoje é dia de dar os parabéns a um velho amigo orelhudo: há 80 anos que o rato Mickey (ou o "Mickami", como eu lhe chamava ainda antes de saber articular uma frase completa minimamente coerente) espalha a sua magia e ternura pelas crianças de todo o mundo.

Símbolo da fantasia e do trabalho de Walt Disney, por ventura um dos criadores que melhor soube conquistar o universo dos sonhos da infância, marcou várias gerações, desde o preto e branco à era digital, e continuará certamente a fazê-lo. Eu continuo fã.

Sunday, November 16, 2008

Ultimo metro

Vou falar-vos de um curioso personagem, Jorge Palma:


Campo Pequeno, 14/Nov/08

Wednesday, November 12, 2008

Lessons to grow old... (it's like walking on the free way)

They never tell you truth is subjective,
They only tell you not to lie.
They never tell you there's strenght in vulnerability,
They only tell you not to cry.
They never tell you you don't need to be ashamed,
They only tell you to deny.
So is it true that only good girls go to Heaven?
They only sell you what you buy.
I've been living underground
Trying not to burn
And finding something else to learn.
(Inspired by Gary Jules)

Arabesco

"Esperei-te no fim de um dia cansado
à mesa do café de sempre.
O fumo, o calor e o mesmo quadro
na parede já azul poente.
Alguém me sorri do balcão corrido,
alguém que me faz sentir
que há lugares que são pequenos abrigos
para onde podemos sempre fugir.
Da tarde tão fria há gente que chega
e toma um café apressado.
E há os que entram com o olhar perdido
à procura do futuro no avesso do passado.
(...)
O escuro lá fora encendeia as estrelas,
as janelas e os olhares nas ruas.
Cá dentro o calor conforta os sentidos
num pequeno reflexo da lua.
Enquanto espero percorro os sinais
do que fomos que ainda resiste,
as marcas deixadas na alma e na pele
do que foi feliz e do que foi triste."
Mafalda Veiga, Fim do dia (do lado quente da saudade)
Foi esta a canção que me veio à cabeça hoje, sentada à mesa daquele que foi o "café de sempre" durante três anos e que já não visitava há algum tempo...
Mais doce que o pastel de nata e mais quente que o café, foi o prazer do regresso e o reencontro das boas memórias. Tenho que voltar mais vezes.

Saturday, November 8, 2008

Carta aberta

Numa arrumação de ficheiros no computador encontrei esta carta, escrita numa tarde em que era suposto estar a descansar antes de ir fazer um turno da noite, em Junho de 2007. Foi uma carta escrita de seguida, muito espontaneamente, após ler um livro que descrevo como inspirador: Do outro lado da bata, de Teresa Gomes Mota.
É uma carta nunca enviada e esquecida por mim... até hoje. Revejo-me (total e dolorosamente, nos últimos tempos) nas minhas palavras, nas minhas dúvidas e nas minhas angústias de há um ano e meio.
***
Cara Teresa,

não nos conhecemos mas ainda assim ouso tratá-la pelo seu primeiro nome porque hoje me sinto muito próxima de si.
Sou enfermeira há onze meses, num hospital público de Lisboa, num serviço de Medicina Interna. Hoje é terça-feira, vou fazer noite. Fui almoçar fora, passei numa livraria antes de vir para casa, descobri o seu livro por acaso, comprei-o… e devorei-o.
A ideia era ler um pouco antes de dormir, para descansar antes de ir trabalhar, mas não consegui parar e li-o de uma ponta à outra.
A empatia que senti consigo e com a sua experiência é incrível, e frequentes vezes as lágrimas me obrigaram a parar antes de continuar a ler.
Pode parecer pretensão… que teremos nós em comum, uma médica tão experiente e uma enfermeira recém-licenciada? Tanta coisa… pelo menos é o que penso após ler o seu livro.
Dei comigo a achar que também eu sou um “patinho feio”, uma idealista. Adoro ser enfermeira, tenho a certeza que não seria feliz se não fizesse o que faço… mas não tenho espaço, tempo ou oportunidade de ser “toda” a enfermeira que sinto que posso ser, que tenho cá dentro.
Enquanto a formação médica foi e continua a ser muito baseada num modelo biomédico, a formação dos enfermeiros evoluiu no sentido de nos fazer olhar os doentes como seres biopsicossociais, em todas as suas dimensões. A Teresa, por ser quem é e ter desenvolvido um determinado percurso, chegou também a essa visão da pessoa doente, a essa forma de entrar em relação com o outro, e destacou-se dos seus colegas. Eu, como tantos outros enfermeiros, fui formada de raiz nesse ideal e dói-me ser largada numa realidade em que o que continua a contar é o diagnóstico e o tratamento, e em que o enfermeiro é constantemente remetido à qualidade de mero executante técnico. E eu sinto-me tão mais que isso…
Mas do outro lado da minha farda também há alguém que continua a sonhar…
Obrigada por, com as suas palavras, me ter ajudado a lembrar quem sou e o que quero ser e por me fazer sentir menos sozinha nesta luta.
Desejo-lhe as maiores felicidades em todos os seus projectos, pessoais e profissionais.

Wednesday, November 5, 2008

Dia de São Barack

Nem sempre, perante um acontecimento ou uma notícia, temos consciência de que presenciamos um momento que marcará a História. Outras vezes, porém, essa noção é clara. Hoje é um desses dias.
Quarenta e cinco anos depois de Martin Luther King ter gritado o seu sonho, Barack Obama foi eleito. É o primeiro presidente negro da nação mais poderosa do mundo e emerge como a nova esperança de cidadãos de todas as raças e credos, que sentiram a brisa da mudança e resolveram abrir as janelas para a deixar entrar e assim reencontrar uma América construída sobre os pilares de liberdade e igualdade.
Talvez o futuro comece hoje.

Tuesday, November 4, 2008

Chocolate quente à beira-rio

A familiaridade da fisionomia e da voz, a coincidência dos pensamentos, a sintonia das opiniões. Feitos talvez da mesma massa, brindados talvez pela mesma sorte ao longo da vida. Dois percursos diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. Ideiais, sonhos e ambições que se partilham à beira-rio e aquecem a tarde fria de Novembro.

Wednesday, October 29, 2008

J.

Conheces-me desde sempre. Brincámos juntas, fizemos disparates, crescemos, partilhamos gostos e opiniões, as nossas tardes de conversa não têm fim. Por muito espaçados que sejam os encontros, são sempre ternos, animados, entre novidades e parvidades, desabafos e gargalhadas.
Há um laço do sangue, mas há acima de tudo um laço de amizade. Uma amizade que eu prezo muito e que ambas fazemos por manter e por estreitar.
Poderia encher páginas com as qualidades que fazem de ti a pessoa especial que és e que desejaria na irmã que não tive. Talvez saibas tudo isto...
...Ou talvez nem imagines! Mas hoje, e perante os últimos tempos, em que tenho duvidado de tanta coisa e tanto de mim própria, não imaginas o quão aconchegante foi o teu abraço e o quão reconfortante foram as tuas palavras.
Obrigada pela esperança.

Destaques

Um centro comercial apinhado e, por entre a multidão, um pequena menina, de totós, ténis da Minnie e um guarda-chuva cor de rosa a saltitar para pisar apenas os mosaicos escuros do chão... (onde é que eu já vi isto?) e o pai a acompanhá-la na brincadeira, engravatado, mas a pular como uma criança. Delicioso cenário.

Duas jovens adultas (acho que é assim que nos chamam agora!) em plena loja da Disney a usar peluches como fantoches e a cantar músicas dos seus filmes de animação preferidos, como se ninguém as estivesse a ver.

Impossível não sorrir...

Saturday, October 25, 2008

Já vi este filme mais do que uma vez e continuo a sofrer da mesma forma cada cena como se fosse uma estreia. O silêncio da casa, o telefone mudo, a vontade de ligar, os dias mais sós, o vazio cá dentro, o ar cheio de saudades, a contagem decrescente para o dia de amanhã que teima em não chegar depressa…

..."But broken hearts can’t call the cops, it’s the perfect crime”.

Thursday, October 23, 2008

Sou acordada pela televisão que ilumina o quarto num filme a preto e branco em que uma jovem gótica passeia um caniche cheio de fitinhas no pêlo. Lá fora chove e a rua está deserta, à excepção de ti, que esperas na esquina, sob o candeeiro que pisca, e olhas na direcção da minha janela, sem mudar de expressão ou fazer qualquer gesto. O tempo parece suspenso noutra dimensão, eu visto uma roupa que me faz parecer acabada de sair de um baile de gala do século XVIII e desço as escadas em caracol a correr para te encontrar. Mas quando chego a rua está repleta de uma multidão que canta em coro “the man who can’t be moved”, há fotógrafos por todo o lado e os flashes encandeiam-me sem que consiga alcançar o sítio onde te havia visto. De repente surge uma ventania, um helicóptero que nos sobrevoa baixinho e despeja sobre as nossas cabeças uma chuva de papelinhos prateados. A lua parece uma gigante bola de espelhos. Sem dar por isso, dou por mim absolutamente sozinha na rua deserta. Ouço passos e surpreendo-me ao ver a jovem gótica com o seu caniche a passar do outro lado. “Boa noite”, diz ela. “Boa noite”, respondo incrédula. Uma chuva miudinha recomeça a cair e sem saber de onde ele aparece, abro um guarda-chuva às bolinhas vermelhas e sigo descendo a rua que parece não ter fim. Vejo-me entretanto da janela do quarto, afastando-me lentamente, como se não fosse eu. E vejo-te depois a correr na minha direcção, como se da esquina onde esperavas tivesses finalmente reparado em mim. Esboço um sorriso, fecho a janela, desligo a televisão e o candeeiro e adormeço serena, pois agora sei que estás comigo e vai ficar tudo bem.

Tuesday, October 21, 2008

Passaram apenas dois anos, às vezes parece muito mais. São já muitas pessoas diferentes, muitos corpos e almas que, apesar da esmagadora força das rotinas, são únicos e irrepetíveis. Eles chegam e partem, para retomarem as suas vidas de sempre ou para nunca mais voltarem, muito provavelmente para me esquecerem até. Mas deixam a memória da sua dor, dos seus medos, dos seus sorrisos, das suas esperanças… E tudo permanece em mim, ora como um impulso para seguir em frente, ora como um fardo demasiado pesado para continuar a carregar.

Thursday, October 9, 2008

Welcome to the cruel world, hope you find your way

E após uma curta pausa cá estou eu de volta ao mundo onde a descontracção aparente esconde o medo de tudo o que se diz, da errada (ou cruel) interpretação de qualquer gesto. Medo de descobrir no outro mais uma desilusão, de descobrir nas paredes mais ouvidos e, por detrás das portas fechadas, mais intrigas.
Assusta. Dói. Corrói. Consome. Entristece. Resiste-se à vontade de fugir e mais ainda à vontade de gritar e desmascarar a grande farsa em que se vive. É por isso que calo tudo o que vai cá dentro, dia a dia, passo a passo... até um dia.
Espero que não até sempre.

Tuesday, October 7, 2008

The sound of silence

O silêncio é um refúgio confortável. Pode ter muitos sentidos e pode não significar nada. Mas quase sempre diz mais que mil palavras. É por isso que as imagens são mudas e a memória é fotográfica.
Há dias em que guardo em mim os silêncios, de quem não tem mais nada a dizer ou simplesmente opta por se calar.

Monday, September 1, 2008

Meu querido mês de Agosto

És verão e festas, és corpo estendido na areia e água fria, és praia e roupa fresca. És o entusiasmo da viagem e a preguiça de estar em casa, os planos que ficam sempre pela metade porque só se faz o que realmente apetece. És pôr do Sol e estrela do mar, és chinelo de enfiar no dedo e gelado de morango, sardas na cara e tardes de esplanada.
E apesar deste ano me teres dado muitas manhãs de nevoeiro e noites de ventania, é por tudo o que representas que é tão fácil perdoar-te e tão difícil parar de sonhar com o teu regresso no próximo ano.
Setembro já chegou com o seu ar morno... o despertador já toca denovo a horas indecentes... e a mim só me resta fechar definitivamente a gaveta dos bikinis.
Adeus, meu querido mês de Agosto, e até para o ano!
Uma tarde de Sol, um regresso a casa solitário, o vento que entra pela janela aberta e agita os cabelos ao som da canção do momento que se canta a plenos pulmões. Terra batida, poeira, estrada... e num instante a imagem perfeita.
A paisagem dourada da erva seca e ao fundo três velhos pinheiros despenteados que se apoiam mutuamente à medida que o calor e o tempo lhes enrugam e secam os troncos vividos. Por detrás uma réstia do mar que brilha ao espelhar a gigante bola de fogo que começa a escorregar céu a baixo até se esconder completamente por detrás daquela linha sempre misteriosa, onde nascem as ondas e morre o nosso dia.
Dá vontade de parar o carro, tirar uma fotografia... mas há cenários que apetece guardar só para mim, porque não há câmara capaz de captar toda a beleza deste fim de tarde.
(17 Agosto 2008)
O vento sopra e arrefece a noite de Verão, dando vida aos canaviais e remexendo as memórias enterradas na areia da praia agora escura e deserta. É o vento que te sopra o meu nome e leva o meu perfume; é o vento que me beija os lábios e corre a devolver-te o meu sabor. Porque aí, onde estás abrigado, sentes a minha falta e vês o vento atear incontrolavelmente a chama do que um dia sentiste por mim, sob as cinzas em que te transformaste.


(15 Agosto 2008)

Sunday, August 3, 2008

Free Hugs

Um grande anúncio...

Wednesday, July 30, 2008

The story, Brandi Carlile

All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you

I climbed across the mountain tops
Swam all across the ocean blue
I crossed all the lines and I broke all the rules
But baby I broke them all for you
Because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
You do... I was made for you

You see the smile that's on my mouth
It's hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess
No, they don't know who I really am
And they don't know what I've been through like you do
And I was made for you...

All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them toIt's true...
I was made for you.

O Sr. Cinzentão

O Sr. Cinzentão é um jovem mas fala como um pobre velho desiludido. Diz ter sido uma pessoa sonhadora, hoje fala da vida como o seu maior pesadelo.
Não vota porque acha que a sua opinião não conta, não acredita na bondade de ninguém e fala da "dinâmica do mundo" como a fatalidade que recái sobre todos nós, qual letra de um triste fado cantado por uma voz rouca e cansada.
Não vota, não tem convicções, não tem credos. Acha que não vale a pena. Tenta fundamentar-se em racionalismo e conhecimento, mas só demonstra passividade e amargura. Pensa até que ajudar alguém é perda de tempo, já que continuarão a existir muitos milhões de sofredores.
Recusa admitir que vive na escuridão mas não reconhece qualquer cor ou luminosidade no mundo. Cuidado Sr. Cinzentão! Olhe que qualquer dia entra nos "entas" sem sequer ter começado a viver.

Sunday, July 27, 2008

O fim da esperança

Ser enfermeira coloca-me muitas vezes em cenários de fim de vida. E apesar de todas as vidas terem um valor inegável, a verdade é que a morte de um doente nem sempre se sente da mesma forma.

A perda da C. esta noite dói-me muito....
... a água lavará o sangue da minha farda, mas jamais da minha memória.

Saturday, July 26, 2008

Se pudesse voava contigo por sobre esta cidade de desencontros e encontraria uma nuvem fofinha onde te deixasse a dormir calmamente até à chegada do tão aguardado príncipe ou sapo que vai fugir contigo para uma praia e fazer-te finalmente "feliz para sempre".
Mas não posso. Resta-me então sofrer contigo cada desilusão e comemorar cada alegria, sempre no sobressalto de te ver sorrir ou chorar, de quereres beber um copo para festejar ou de precisares de um pouco de colo.
Sabes uma coisa? Tenho muito medo que te magoes (ainda) mais, mas não consigo deixar de admirar a tua determinação em lutar até ao fim.
Torço por ti, aconteça o que acontecer. E porque te desejo o melhor, como se para mim desejasse, porque és a Amiga... estou aqui. "Por luas e sóis e mundos a haver".

Wednesday, July 23, 2008

A outra cidade

Onde outros vêem a vida cosmopolita, as multidões e a multiculturalidade, para além do confuso metro, do burburinho do trânsito ou do brilho dos musicais, existe uma outra cidade.
Nela é possível respirar a plenos pulmões, ouvir os sinos tocar, correr, jogar, ler... ou simplesmente sentar e desfrutar.




Dá vontade de ficar.

(Londres, 2008)

Friday, July 11, 2008


Um cão, eu sempre disse, é prosa; Um gato é um poema. (Jean Burden)

"Se não te deste a ninguém magoaste alguém. A mim passou-me ao lado"

Cd's arrumados. Esquissos, Toranja, 2004. Histórias antigas, escondidas cá dentro. Quase esquecidas, nunca esquecidas. Canções que redescubro, de que gosto, ouvidas hoje com o prazer do som familiar, cantando a dor que senti um dia. Mas é bom ouvi-las denovo, tanto tempo depois, com o coração leve. Passou. Já não doem nada. Nada, como tu.

Sol

Hoje o Sol cheira a maresia, sabe a sal e tem o doce toque da brisa nos cabelos esvoaçantes. Aquece o corpo, ilumina o espírito e reflete nos olhos a cor e a liberdade do mar. No horizonte, apenas imensidão. Amanhã regressa o mundo real mas, para já, deixo-me apenas estar sob o Sol.
(10 Jul. 08)

Wednesday, June 4, 2008

Avô

Avô (diz, neta), no outro dia sonhei consigo. Fiquei perturbada. Foi tão real que quando acordei e percebi que não tinha passado de um sonho senti tantas saudades...
Às vezes parece que as pessoas se habituam a estar sem as outras, não é? Longe da vista, longe do coração, ocupadas no burburinho do dia a dia, sem grande tempo para recordações. Mas não há hábito que vença este vazio que se instala quando vou lá a casa e dou com a avó sozinha, quando passeio pelo quintal e descubro vestígios de si (estarão lá ou estarão em ti?), quando se reúne a família e se festeja alguma data, quando revejo as fotografias do tempo em que fazia connosco o presépio, contava as suas histórias e anedotas, me levava a ver os cabritinhos bebés ou me deixava andar de carroça. Tanta coisa mudou...
Sinto a sua falta, avô. A minha mãe também, a avó então nem se fala! Eu bem as vejo às vezes a olhar para mim, quando faço um comentário mais trocista, com aquela cara de quem está a ver um bocadinho de si por detrás destes olhos tão iguais aos seus.
Penso muitas vezes que tenho pena de não ter tido a idade e a compreensão necessárias para me despedir de si. E sabe outra coisa que também me ocorre de vez em quando? Não sei se lhe disse alguma vez claramente, mas gosto muito, mesmo muito de si (eu sei...).

A viagem

Entre o partir e o chegar, a viagem. O prazer de conduzir, os momentos verdadeiramente a sós, a mente em branco, o corpo em piloto-automático. Pensamentos sobre tudo e sobre nada, o passado que se lembra ao som de uma música, o futuro que se sonha ao som de outra, a voz que não se cansa de as repetir, a paisagem que se conhece de cor mas onde se encontra ainda e sempre um elemento novo. Para trás um dia de Sol, pela frente as luzes da cidade dispersas pela noite. Desliga-se o motor do carro e quebra-se o encanto, de regresso ao mundo.

Saturday, May 31, 2008

Fortemente recomendado a adultos

Não sou nada apreciadora destes jornais de distribuição gratuita, cheios de títulos escandalosos e notícias sensacionalistas... mas desta vez tenho que me render. A edição do jornal Metro dedicada ao dia internacional da criança está fenomenal.
Sob o mote "propostas para salvar o planeta", as crianças assumem a redacção do jornal e apresentam soluções para um mundo melhor através das suas palavras e desenhos, no tom de espontaneidade e ingenuidade que todos perdemos algures quando, sem darmos por isso, deixamos de nos incluir nessa fase mágica que é a infância.
Além das preocupações ambientais, do carinho e dedicação aos animais e de um profundo sentido de justiça social, reina também a imaginação e aquelas afirmações que nos desarmam como poucos adultos são capazes. "Se tivesses que mudar algo no mundo, o que seria?" é a pergunta; "que os anões e os duendes não tivessem medo de nós", responde a Inês!
Aprendamos pois alguma coisa com eles, pois não serão crianças para sempre!

Thursday, May 29, 2008

Um dia

Fica a imagem de uma campanha publicitária que considero genial e que, a cada pacote de açúcar, me dá que pensar.

Passamos a vida a fazer planos e a adiá-los, com a desculpa de que "um dia" teremos tempo, dinheiro, companhia, disposição ou oportunidade de os realizar. E os dias sucedem-se até que esse dia chegue... ou talvez não.
Lembremo-nos apenas que todos os dias são bons dias para comprar flores, para vestir uma roupa bonita, para ler um livro, ir ao cinema, ligar àquele amigo que não temos visto, inscrevermo-nos naquele curso que sempre quisemos fazer... para viver, para sorrir, para sonhar e, sobretudo, para fazer algo no sentido de concretizar esses sonhos.

Sunday, May 25, 2008

Preto e Branco

Uma noite a preto e branco tingida pelas cores da verdadeira amizade, aquela que meses depois do último encontro se mantém viva nos sorrisos, nos gestos, nas palavras e nos silêncios. Sinto saudades do tempo em que vos via todos os dias.. Orgulho-me dos amigos em que esse tempo nos transformou, permitindo-nos viver noites como esta.
(24 Maio 2008)

Saturday, May 24, 2008

Casados de fresco

Ontem o Pedro casou. O primeiro, o nosso pioneiro nessa união com outro alguém num passo que encerra em si o compromisso da eternidade.
Emocionei-me. Emociono-me denovo ao relembrar, ao ver as fotografias. E penso em tudo o que aquele dia significa nas suas vidas. Independentemente de todas as dúvidas e reflexões acerca do casamento, religioso ou não, e do seu valor e importância numa relação e nos dias de hoje, é inegável que se trata de um marco na vida de duas pessoas.
Estamos a ficar crescidos... e o Pedro e a Irina não deram apenas azo a um sonho ingénuo de criança; deram antes um passo firme de adulto na construção do seu futuro. Quanto a mim, só desejo que esse futuro seja espelho do dia do seu casamento no qual, apesar do vento e chuva (até de árvores a cair!), brilhou o sol, fez-se sentir o calor dos afectos e viu-se a felicidade estampada nos seus sorrisos.
(11 Maio 2008)

Friday, May 23, 2008

Greves e graves

Também eu tenho motivos para andar descontente, desde o trabalho precário, à remuneração como bacharel apesar do grau de licenciatura, à ausência de perspectivas de progressão numa carreira que está suspensa há anos, à falta de condições de trabalho... Mas, que me desculpem todos os grevistas, sindicalistas e outros istas ferranhos: que greve é esta feita a uma sexta feira (como quase todas, curiosamente), a seguir a um feriado?! Que impacto tem este tipo de data a não ser o de agravar a ideia de que o funcionalismo público se resume a um conjunto de baldas, pontes, entradas tardias e saídas precoces com muitas pausas para descanso pelo meio?! E mais: que definição de serviços mínimos é esta, na qual colocar e retirar uma arrastadeira não está incluída mas mudar uma fralda está, obrigando assim pessoas continentes a urinar e evacuar na fralda, num completo desrespeito pela sua dignidade?! Onde ficam a responsabilidade e a ética profissionais?!
Greve é, sem dúvida, um direito dos trabalhadores. Direito ao protesto, à luta por tudo o que lhes assiste, mas não direito "à balda". É uma manifestação contra o patronato e nunca contra o cidadão seu cliente, neste caso os doentes que, na prática, são quem realmente sofre.
Não me queixo de ter posto as arrastadeiras que pus, de ter dado os banhos que dei sozinha, de ter feito as camas desocupadas, de ter limpo e arrumado bacias, de ter carregado com jarros de água quente, de não ter o material reposto, de ver os sacos do lixo cheios e mal cheirosos... de nada. A não ser desta atitude generalizada de "deixa-andar" à qual não consigo nem quero aderir.

Wednesday, May 14, 2008

Por uma vida melhor


Termina já dia 18 a exposição de Gérald Bloncourt, uma exposição de fotografias complementada por documentários acerca da emigraçãp portuguesa em França nos anos 50/60. Numa palavra: impressionante.

Na minha família ninguém fez parte deste movimento migratório massivo e, talvez por isso, não imaginava o quão difíceis foram aqueles tempos. A par da miséria que viviam muitos em Portugal, trabalhando de Sol a Sol e tirando da terra o seu fraco sustento, muitas vezes pautado pela fome, pelo frio e pela frustração de não poder dar aos filhos o conforto e a educação que mereciam, estavam num país atrasado, marcado pela ditadura e pela censura, pela ignorância e pela opressão... e assim partiam "a salto", clandestinos, caminhando descalços pelas montanhas dos pirinéus quando a sola dos sapatos se gastava de vez, passando fome e sede, dormindo ao frio entre as vacas para se aquecerem, até chegarem onde sonharam encontrar trabalho, dinheiro e, assim, uma vida melhor.

Mas encontravam bairros de lata, terrenos de lama, exploração no trabalho, ordenados escassos e atrasados, meses e anos de sofrimento enquanto reconstruiam uma França moderna e desenvolvida, país da Igualdade, Liberdade e Fraternidade, que fechava os olhos à sua presença miserável e desumana. Por cá, nada de novo... apenas um número cada vez maior de fugas clandestinas para esse mesmo destino.

Mas nas cartas à família, confessam eles, apenas contavam coisas maravilhosas, tentando convencer quem ficava que a vida lhes sorria agora, envergonhados de mostrar a sua verdadeira condição.

Os anos passaram para muitos e trouxeram algumas melhorias... pelo menos casas de tijolo e telha, pelo menos a possibilidade de chamar os filhos para junto de si, de os enviar para a escola... Alguns voltaram, atraídos pelo apelo da terra-mãe e das memórias de infância e juventude, finda a ditadura e a guerra colonial que levou tantas vidas na sua geração. Mas os filhos ficaram, os netos nem português falam... e assim se perdem as memórias destas vidas divididas e sofridas.

Os olhos ficaram húmidos muitas vezes ao longo do tempo que ali passei, vendo aquelas imagens e ouvindo aqueles testemunhos. E no final, além da emoção, a clara noção de que muito pouco mudou. Muitos portugueses (e cada vez mais) emigram em busca do que aqui lhes falta, assim como muitos africanos e europeus de leste (só como exemplo) vêm para cá em busca do que lhes falta nas suas terras. E o que encontram? Um país que ignora as suas carências, que os usa como mão de obra barata, marginaliza e deixa acumular nas periferias das grandes cidades em autênticas bidonville à portuguesa.

Em suma, está naquelas salas um conjunto de memórias de uma época que marcou uma geração em dois países e cuja história vemos repetir-se, hoje como no passado, passivamente.

Friday, April 25, 2008

So many answers still blowing in the wind...

O novo anúncio da Galp, a propósito da selecção de futebol, tem como banda sonora Paths of Victory e fez-me ter vontade de regressar ao som do Bob Dylan, ouvir denovo algumas músicas daquela sua combinação única: voz, guitarra, harmónica, boas letras... A simplicidade vinda de um universo tão complexo como o do artista e da pessoa que ele é. Aqui fica Blowing in the wind, a minha preferida.

How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, 'n' how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
How many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, 'n' how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
Pretending he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, 'n' how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

Hoje é também o dia em que se comemora a revolução que devolveu a liberdade e a democracia ao nosso país... Talvez esta música tenha tudo a ver com a data passada, mas também com o momento presente e com tantas respostas que o vento nos sussurra e que continuamos sem consegir entender.

Monday, April 7, 2008

E a polémica continua...

Muito se tem falado nas últimas semanas de violência nas escolas, tema trazido à ribalta pelo episódio da Escola Carolina Michaelis. Não deixa de ser curiosa a onda que se gerou em volta deste caso, motivando o debate e mobilizando toda a opinião pública, dividida algures entre os que condenam a aluna e os que condenam a professora. No entanto, não me parecem muitos os que páram para questionar o que significa aquele episódio (bem como outros que têm sido divulgados depois) no contexto actual.
A geração dos meus pais e as anteriores foram educadas em ambientes mais hostis, quer em casa, quer na escola, onde a autoridade do professor era incontestável e os castigos com palmatórias e orelhas de burro ditavam a lei. Quanto à minha geração, penso que tivemos a sorte de viver numa época mais moderada e informada, na qual os conhecimentos de pedagogia e psicologia deram os seus contributos e os castigos físicos eram já raras excepções. Hoje, que temos? Crianças insubordinadas, que não respeitam minimamente a autoridade das pessoas mais velhas, quer sejam pais, avós, professores ou quaisquer outros. A maioria dos nossos adolescentes têm telemóveis desde tenra idade, televisão no quarto, acesso ilimitado à internet; as miúdas vestem-se e produzem-se de modo provocante e passeiam-se nos autocarros às 8 da manhã maquilhadas como para uma sessão fotográfica; os seus maus resultados na escola são desculpados pelos pais com a má qualidade dos professores; reclama-se a toda a hora das exigências do sistema educativo, luta-se para acabar com as provas nacionais e diminuir a um nível insignificante o seu peso na avaliação dos alunos e no seu acesso ao ensino superior; pressionam-se as escolas, os professores para não reprovar os meninos, sob pena deles ficarem "traumatizados"; perdoa-se-lhes a sopa e a fruta às refeições e premeiam-se as birras com brinquedos e jogos violentos, roupas de marca, bolos e guloseimas; criam-se homens e mulheres arrogantes, a quem pouco ou nada dizem valores fundamentais, que não sabem lidar com a frustração e que têm como principal objectivo o protagonismo fácil e sem mérito de aparecer em series de televisão tão vazias de conteúdo como as suas próprias vidas.
Enquanto "no meu tempo" um comportamento como o da aluna do vídeo seria uma excepção, hoje é toda uma turma que assite, apoia, filma e publica o que se passou. Enquanto na minha turma de secundário um professor, melhor ou pior, conseguia manter a ordem na sala de aula, a autoridade desta professora é discutida no confronto físico com a aluna e não através dos órgãos apropriados: direcção de turma, conselho disciplinar... ou será que todas estas formas de organização escolar foram entretanto extintas? E os pais, onde andam e onde pára a sua responsabilidade no meio disto tudo?!
Não, não éramos nenhuns santos. Nem o somos hoje, evidentemente. Resta saber como serão estes jovens, daqui por uns anos.

Thursday, March 20, 2008

As mãos que cuidam

Foi um exercício que fizemos na cerimónia de benção das fitas e foi mágico. É um exercício que gosto de fazer de vez em quando: olhar as minhas mãos. Pensar em todas as pessoas em quem elas tocaram, de quem elas cuidaram. Todos aqueles a quem, através delas, causei dor e tentei confortar. Em tão pouco tempo, estas mãos já cruzaram muitas vidas... e algumas mortes também. Ao olhá-las, ao pensar nelas desta forma, sinto-me mais pessoa e lembro-me que, mesmo nas piores condições ou momentos, temos as nossas mãos. E, muitas vezes, elas são tudo o que precisamos.



"I could change the world with my own two hands"

Monday, March 3, 2008

Lágrimas

Haverá melhor bálsamo para uma alma magoada do que as lágrimas? Vêm com a noite escura para dar conforto à garganta que não segura mais a angústia e derramam sobre o silêncio da solidão tudo o que o peito cansado se esforçou por ocultar ao longo do dia. Chora. Chora tudo. Soluça como a menina pequenina que te sentes hoje até adormeceres de cansaço. A manhã trará luz e um novo alento.

Cinzas

O sol põe-se, as sombras invadem este mundo que a luz sempre teve dificuldade em dominar. O cansaço vence os corpos que ainda resistem. A azáfama dá lugar ao silêncio, um silêncio pesado que paira sobre as mentes que divagam entre a dor e a esperança.
"Isto que aqui vê são já apenas cinzas, menina."
Cinzas. Pó. Vestígios do poder e do calor de um fogo de outrora, ainda visível nos seus olhos, agora marejados de lágrimas. Pudera eu devolver-lhe a chama...

Wednesday, February 27, 2008

A Sombra do Vento

Sombra do vento, calafrio do Sol,
anjo marítimo que naufragas entre nuvens de pó,
desce a tua mão sbre estas páginas.
Enterra-as, esconde-as.
Guarda-as como a um tesouro
e deixa-me revisitá-las apenas por momentos.
Perder-me no espaço e no tempo
para me reencontrar nas suas palavras,
espelho de muito que há em mim.
Elas me alvoroçaram o coração em noites em claro
apenas para me verem amanhecer
como se de um sonho se tivesse tratado.
"Porque há prisões piores que as palavras"...

Wednesday, February 13, 2008

Canções de amor

Amanhã é dia dos namorados. Por todo o lado os coraçõezinhos pirosos, os anúncios, as promoções a condizer... É um dia criado pela sociedade consumista, mas ainda assim é um dia que vale como significativo para a maioria dos casais que, à sua maneira, o comemora.
Da minha parte, vai ser um dia dos namorados algo solitário, passado a trabalhar, apenas com direito a alguns mimos telefónicos... Mas há uma campanha a que não fico indiferente: a inicitiva da Mega FM de eleger as músicas mais lamechas de sempre, segundo a votação dos ouvintes.
Dei comigo a pensar que realmente, como muitos outros aspectos e momentos da vida, o amor é extremamente propício a músicas de fundo, além de inspirar desde o princípio dos tempos os escritores e compositores.
E qual é, para mim, a música mais apaixonada de sempre? Não sei bem.
De entre as muitas músicas que constituem a banda sonora da minha curta vida, há várias... Porque marcaram momentos, amores e desamores, porque parecem reproduzir exactamente o que me vai na alma ou simplesmente porque me tocam de alguma forma inexplicável...
Lembro-me, por exemplo, de em adolescente achar que a música She, do Elvis Costello, era a maior declaração de amor que alguma vez alguém poderia sonhar ouvir. E realmente continuo a achar que é uma música especial. Assim como Your Song, do Elthon John, ou Good bye my lover, do James Blunt, Cada Lugar teu, da Mafalda Veiga, Come back, dos Pearl Jam, Love of my life, de Santana & Dave Matthews, Can't take my eyes off of you, na versão da Lauryn Hill, O meu amor existe e tantas outras do Jorge Palma, que teima em cantar pedaços do mais fundo que há em mim...
Mas a que talvez mais universalmente posso identificar como A canção de amor, é a velhinha Unchaimed Melody, que parece sempre saída de uma juke box e que, por mais anos que passem e versões que criem, continua a arrepiar-me logo aos primeiros acordes...
Oh my love, my darling
I've hungered for your touch
A long lonely time
Time goes by so slowly
and time can do so much
Are you still mine?
I need your love
I need your love
God speed your love to me
Lonely rivers flow to the sea
To the sea
To the open arms of the sea
Lonely rivers sigh "Wait for me"
Wait for me
I'll be coming home
Wait for me
Oh my love, my darling
I've hungered,
Hungered for your touch
A long lonely time
And time goes by so slowly
And time can do so much
Are you still mine?
I need your love, I,
I need your love
God speed your love to me
Se esta não é uma música de amor... qual será?

Thursday, February 7, 2008

A partida dói. Doem os últimos momentos, é difícil concentrar-me e ajudar-te a tratar dos últimos preparativos. O último abraço queima, o último beijo tem um sabor triste. Dói virar finalmente as costas, segurar a vontade de olhar para trás e conter as lágrimas que tornam os olhos mais brilhantes enquanto atravesso o aeroporto até ao carro. É angústia, é um vazio que preenche o peito, aperta o estômago, asfixia.
Resta voltar para casa, retomar a vida do ponto onde ela ficou e contar os dias. Resta conviver a cada dia com a saudade.
E é só ao avistar Alcácer, sozinha na estrada escura, ao aperceber-me do quão estrelado está hoje o céu por onde voas para o outro lado do mundo, que tudo o que trago cá dentro desaba finalmente.
Volta depressa...

Sunday, January 20, 2008

"Sometimes you love... and you learn... and you moove on. And that's ok."

A desilusão e a frustração são, às vezes, importantes motores das pessoas, tem piada. E não raramente o "desamor" nos move com tanta intensidade como o amor... ou os sentimentos com os quais o confundimos.
A sensação da rejeição, o desapontamento, a dor crónica da memória da traição ficam para sempre guardados em nós como cicatrizes de feridas antigas que, tendo demorado mais ou menos tempo para encerrar, nunca desaparecerão, mostrando-nos a cada momento que as revisitamos o quanto foi doloroso... Mas impelem-nos também para seguirmos em frente e não nos prendermos ao passado, a lutar contra o medo de o vermos repetido apenas num tempo e lugar diferente.
E assim o mundo continua a girar e temos que o acompanhar, porque ele nunca pára para se concertarem corações partidos ou refazermos o puzzle das nossas vidas que alguém fez o favor de desmanchar. E a reconstrução pode ser tão melhor que passemos a acreditar que, desta vez, teremos o final feliz que merecemos.


I wish you bluebirds in the spring
To give your heart a song to sing
And then a kiss, but more than this
I wish you love


And in July a lemonade
To cool you in some leafy glade
I wish you health
But more than wealth
I wish you love


My breaking heart and I agree
That you and I could never be
So with my best
My very best
I set you free


I wish you shelter from the storm
A cozy fire to keep you warm
But most of all when snowflakes fall
I wish you love



(Rachael Yamagata)

Monday, January 14, 2008

Histórias para não adormecer

Um livro para todos lermos, nos envergonharmos da pequenez da maioria dos nossos problemas e ganharmos força para lutarmos pelas nossas causas pessoais, mas também por causas que são de todos nós, enquanto pessoas: "Histórias para não adormecer: relatos dos voluntários da AMI em diversos pontos do mundo".
Porque a vontade de partir para uma missão de voluntariado algures na mãe-África vive em mim há muito tempo e por mil e um outros motivos, houve muitas histórias que me chocaram, me emocionaram e me marcaram... muitos relatos que me deram que pensar...
Destaco aqui um excerto de um texto do prórpio Fernando Nobre (fundador da AMI), retirado de um diário de missão num campo de refugiados ruandeses, campo de exposição da miséria e crueldade humanas. Porque todos podemos fazer a diferença individualmente e mudar pequenos mundos com os nossos pequenos gestos, mas não podemos deixar de nos sentir impotentes perante a imensidão que continuamos sem conseguir mudar... e a passividade de quem o poderia fazer e não faz.
"Acuso os corruptos instalados em todos os continentes, assim como os altos responsáveis das grandes potências, sobretudo dos cinco permanentes no Conselho de Segurança da ONU, os altos responsáveis da ONU (e suas agências), da NATO, da UEO, da União Europeia, de serem co-responsáveis directos de todas essas chacinas. São eles os agentes permissivos das chacinas e da corrupção, pela falta de coragem e de vontade na resolução das crises; são eles também os agentes de morte pela venda de armas, causa de todas essas misérias. Eles vivem dessas misérias, das reuniões múltiplas e inúteis, que lhes garantem viagens e salários vergonhosos, onde se "tomam" decisões que se sabe de antemão que não são tomadas para serem aplicadas mas para ganhar tempo e enganar a opinião pública internacional que, na sua maioria, se deixa cegar e adormecer. Muitas vezes, por puro comodismo, são esses "grandes" senhores, estrategas da miséria e das catástrofes, que, de reunião em reunião, de "cocktail" em "cocktail", dissertam sobre as soluções sem nunca terem vivido e compreendido - porque não lhes interessa - as tragédias que provocam conscientemente, por cinismo, ou inconscientemente, por cobardia ou incompetência.
Há que repensar todo o circuito das decisões a nível internacional. Há que moralizar e pôr uma ética nas relações internacionais, única forma de evolução positiva da humanidade. Os ditadores corruptos e assassinos têm que ter a certeza absoluta de que certos comportamentos serão punidos. (...)
Porque penso que a humanidade tem a capacidade de resolver todas estas questões e todas aquelas que se apresentarem, apelo a um reforço de solidariedade entre os povos baseada na ética humanista. Será uma utopia?"
Será?

Sunday, January 13, 2008

10 motivos para sorrir... sempre!

1. Ver fotos antigas e recordar os momentos em que foram tiradas.
2. O nascer e o pôr do Sol.
3. Acordar e descobrir que ainda é cedo e posso dormir mais um pouco.
4. O conforto da lareira em dias frios ou de chuva.
5. Um abraço apertado dado no momento certo.
6. Um mergulho no mar, vista de mar, sabor a mar, cheiro a maresia, ruído de ondas...
7. A companhia de um bom livro.
8. Um sorriso ou gargalhada sinceros.
9. A música, em todas as situações.
10. Momentos de cumplicidade e partilha.

Tuesday, January 1, 2008

@2008

É o primeiro dia do ano. Dia de alegria, de excessos, mas sobretudo de esperança. Há quem peça desejos, quem faça promessas... sempre com vista a uma vida melhor nos próximos 3oo e tal dias que aí vêm.
É dia mundial da paz e esta é também uma época em que, cada um à sua maneira, tentamos construir a nossa paz interior, fazemos balanços, tomamos decisões e gostamos de nos rodear dos que mais amamos.
Trabalhei hoje de manhã. Apesar das poucas horas de sono e do cansaço acumulado quis começar o ano com um sorriso nos lábios e tentar levar àquelas que iniciam 2008 com pouca saúde alguma alegria e energia positiva.
Não parece, no entanto, um bom pronúncio a forma como chego a casa: esgotada! Foi um turno muito difícil, pesado, desgastante, longo... Porque um ano terminou e outro começou sem que estivessem asseguradas as mínimas condições para se prestarem cuidados de qualidade naquele serviço. Falta roupa, falta material, faltam recursos humanos... Sobra boa vontade... mas já nem essa tapa todos os buracos que vão ficando abertos.
Há, no entanto, que agradecer a doentes e famílias que, apesar de terem tido uma enfermeira em constante movimento e com tão pouco tempo para lhes dedicar de cada vez, foram pacientes, compreensivos e calorosos... E às colegas, porque fomos uma verdadeira equipa!
Temos um ano inteiro pela frente e melhores dias virão! Entretanto, obrigada por não me deixarem esquecer porque é que insisto em fazer desta a minha vida...