Wednesday, October 29, 2008

J.

Conheces-me desde sempre. Brincámos juntas, fizemos disparates, crescemos, partilhamos gostos e opiniões, as nossas tardes de conversa não têm fim. Por muito espaçados que sejam os encontros, são sempre ternos, animados, entre novidades e parvidades, desabafos e gargalhadas.
Há um laço do sangue, mas há acima de tudo um laço de amizade. Uma amizade que eu prezo muito e que ambas fazemos por manter e por estreitar.
Poderia encher páginas com as qualidades que fazem de ti a pessoa especial que és e que desejaria na irmã que não tive. Talvez saibas tudo isto...
...Ou talvez nem imagines! Mas hoje, e perante os últimos tempos, em que tenho duvidado de tanta coisa e tanto de mim própria, não imaginas o quão aconchegante foi o teu abraço e o quão reconfortante foram as tuas palavras.
Obrigada pela esperança.

Destaques

Um centro comercial apinhado e, por entre a multidão, um pequena menina, de totós, ténis da Minnie e um guarda-chuva cor de rosa a saltitar para pisar apenas os mosaicos escuros do chão... (onde é que eu já vi isto?) e o pai a acompanhá-la na brincadeira, engravatado, mas a pular como uma criança. Delicioso cenário.

Duas jovens adultas (acho que é assim que nos chamam agora!) em plena loja da Disney a usar peluches como fantoches e a cantar músicas dos seus filmes de animação preferidos, como se ninguém as estivesse a ver.

Impossível não sorrir...

Saturday, October 25, 2008

Já vi este filme mais do que uma vez e continuo a sofrer da mesma forma cada cena como se fosse uma estreia. O silêncio da casa, o telefone mudo, a vontade de ligar, os dias mais sós, o vazio cá dentro, o ar cheio de saudades, a contagem decrescente para o dia de amanhã que teima em não chegar depressa…

..."But broken hearts can’t call the cops, it’s the perfect crime”.

Thursday, October 23, 2008

Sou acordada pela televisão que ilumina o quarto num filme a preto e branco em que uma jovem gótica passeia um caniche cheio de fitinhas no pêlo. Lá fora chove e a rua está deserta, à excepção de ti, que esperas na esquina, sob o candeeiro que pisca, e olhas na direcção da minha janela, sem mudar de expressão ou fazer qualquer gesto. O tempo parece suspenso noutra dimensão, eu visto uma roupa que me faz parecer acabada de sair de um baile de gala do século XVIII e desço as escadas em caracol a correr para te encontrar. Mas quando chego a rua está repleta de uma multidão que canta em coro “the man who can’t be moved”, há fotógrafos por todo o lado e os flashes encandeiam-me sem que consiga alcançar o sítio onde te havia visto. De repente surge uma ventania, um helicóptero que nos sobrevoa baixinho e despeja sobre as nossas cabeças uma chuva de papelinhos prateados. A lua parece uma gigante bola de espelhos. Sem dar por isso, dou por mim absolutamente sozinha na rua deserta. Ouço passos e surpreendo-me ao ver a jovem gótica com o seu caniche a passar do outro lado. “Boa noite”, diz ela. “Boa noite”, respondo incrédula. Uma chuva miudinha recomeça a cair e sem saber de onde ele aparece, abro um guarda-chuva às bolinhas vermelhas e sigo descendo a rua que parece não ter fim. Vejo-me entretanto da janela do quarto, afastando-me lentamente, como se não fosse eu. E vejo-te depois a correr na minha direcção, como se da esquina onde esperavas tivesses finalmente reparado em mim. Esboço um sorriso, fecho a janela, desligo a televisão e o candeeiro e adormeço serena, pois agora sei que estás comigo e vai ficar tudo bem.

Tuesday, October 21, 2008

Passaram apenas dois anos, às vezes parece muito mais. São já muitas pessoas diferentes, muitos corpos e almas que, apesar da esmagadora força das rotinas, são únicos e irrepetíveis. Eles chegam e partem, para retomarem as suas vidas de sempre ou para nunca mais voltarem, muito provavelmente para me esquecerem até. Mas deixam a memória da sua dor, dos seus medos, dos seus sorrisos, das suas esperanças… E tudo permanece em mim, ora como um impulso para seguir em frente, ora como um fardo demasiado pesado para continuar a carregar.

Thursday, October 9, 2008

Welcome to the cruel world, hope you find your way

E após uma curta pausa cá estou eu de volta ao mundo onde a descontracção aparente esconde o medo de tudo o que se diz, da errada (ou cruel) interpretação de qualquer gesto. Medo de descobrir no outro mais uma desilusão, de descobrir nas paredes mais ouvidos e, por detrás das portas fechadas, mais intrigas.
Assusta. Dói. Corrói. Consome. Entristece. Resiste-se à vontade de fugir e mais ainda à vontade de gritar e desmascarar a grande farsa em que se vive. É por isso que calo tudo o que vai cá dentro, dia a dia, passo a passo... até um dia.
Espero que não até sempre.

Tuesday, October 7, 2008

The sound of silence

O silêncio é um refúgio confortável. Pode ter muitos sentidos e pode não significar nada. Mas quase sempre diz mais que mil palavras. É por isso que as imagens são mudas e a memória é fotográfica.
Há dias em que guardo em mim os silêncios, de quem não tem mais nada a dizer ou simplesmente opta por se calar.