Friday, January 29, 2010

Porque fazem greve os enfermeiros?


A Enfermagem obteve o grau de licenciatura há cerca de uma década. Desde então, os enfermeiros são provavelmente os profissionais de saúde que mais têm investido em formação, sendo evidente não só a forte aposta em formação contínua, de carácter predominantemente teórico-prático, mas também um crescente desenvolvimento em termos académicos, com um grande aumento da frequência de mestrados e doutoramentos, bem como a execução de trabalhos de investigação.
Assim, ser enfermeiro significa cada vez mais ser um profissional altamente diferenciado, cuja prática implica uma grande responsabilidade, num contexto onde se pretende rigor, cientificidade, humanização e qualidade. Pelo que se torna evidente a sua importância no sistema nacional de saúde.
No entanto, e apesar de um notável percurso de desenvolvimento profissional, a Enfermagem não vê reconhecido o seu real valor ao ser sucessivamente adiada a actualização da remuneração dos seus profissionais, bem como da carreira em si.
Os enfermeiros não estão em greve para reinvindicar uma diminuição da excessiva carga horária a que estão sujeitos, não exigem o pagamento de horas extraordinárias, não estão a solicitar que o tempo e dinheiro que dispensam em formação profissional lhes seja de alguma forma ressarcido, não pedem benefícios ou privilégios, não falam sequer dos riscos a que se sujeitam diariamente ou do quão desgastante é a sua profissão, não estão a discutir as políticas institucionais que tantas vezes os desvalorizam funcionalmente e os remetem para o lugar de meros executantes...
Por muitas queixas que tenham, desta vez os enfermeiros estão em greve apenas para reivindicar que o pagamento do seu trabalho seja equivalente ao pagamento que o Estado faz a todos os outros licenciados. Apenas porque não há razão para que dois profissionais com o mesmo nível de formação sejam pagos de forma diferente quando trabalham para a mesma entidade.
É, no fundo, uma questão de justiça para com uma classe que tem sido sucessivamente tratada como secundária. Os enfermeiros, como qualquer outro grupo profissional, merecem ter uma carreira que lhe permita crescer e projectar um futuro; merecem ver o seu empenho e esforço recompensados e valorizados; e merecem a actualização do seu salário de acordo com a sua formação, diferenciação e responsabilidade... O que não pode corresponder a menos 500-600 € do que um professor ou técnico superior de saúde. Não que eles ganhem demais; nós é que somos verdadeiramente mal pagos.
Os enfermeiros estão em greve porque não são um grupo de caridosos benfeitores que fazem pensos e "sabem dar" injecções, mas antes um grupo de profissionais sérios, que prestam cuidados imprescidíveis, e precisam ser considerados como tal.

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