Sou benfiquista. Porquê? É talvez daquelas coisas que não se explicam. A simpatia pendeu para ali, a influência paterna certamente também ajudou e, assim, não sendo "uma doente", a verdade é que o clube do meu coração é o Glorioso.
Ontem fui ao estádio e dei comigo a pensar o quanto um jogo de futebol, à semelhança de poucos outros eventos, traz consigo momentos de pura sintonia.
É absolutamente fantástico ter milhares de pessoas unidas pelo mesmo fio condutor, gritando as mesmas palavras de ordem, cantando as mesmas letras, tendo o olhar vidrado no mesmo acontecimento. Cada um vive à sua maneira, ao seu ritmo, com a sua intensidade, mas de alguma forma paira ali uma aura de comunhão indescritível.
Por 90 minutos, as bancadas transformam-se em palco de irmandade, os estranhos são companheiros unidos pelo mesmo desejo, movidos pela mesma ambição, tomados pela mesma paixão.
Ouvir o nome do meu clube gritado por 52 mil pessoas tem impacto. Comove. Ver um estádio inteiro vestido de vermelho, cantando, agitando cachecóis, fazendo ondas humanas e gritando gooooooooooooooooooooooooooloooooooooooooooooooooooo, de pé, até a garganta doer e o coração parecer saltar pela boca, é arrepiante. É o verdadeiro inferno da Luz.
E mesmo no momento mais duro, que é assistir ao golo do clube adversário, que é admitir a inferioridade, a fragilidade, a má jogada, há apenas breves momentos de silêncio (em que cada adepto digere amargamente o que acabou de ver) e o desânimo não dura mais que uns 15 segundos, até que todo o estádio torne a gritar, ainda mais orgulhosamente, pelo seu Benfica.
Ontem saí do estádio feliz, de braço dado com o meu pai, na noite fria, entre os comentários das pessoas que dispersavam, de volta às suas casas e às suas vidas, na sequela de uma vitória.
Outros dias houve em que saímos desanimados, com derrotas ou empates. Mas não há nada a fazer, de facto. Ser de um clube não é uma escolha racional: o nosso é sempre o melhor do mundo, mesmo quando perde por muitos.
Ser do Benfica é apenas ter na alma a chama imensa. E é algo que não se deixa de ser, como dizia outro alguém, “até morrer”.