Monday, August 17, 2009

Abaixo os contos de fadas

Há muito tempo que um ou outro acontecimento me faz revisitar uma (pseudo) decisão antiga: quando tiver uma filha, não lhe vou contar histórias que metam ao barulho príncipes encantados. Recuso-me.
Este tipo de histórias tem condicionado as mentes das pobres miúdas durante gerações. Passamos a adolescência e o início da idade adulta a sonhar com um qualquer romântico montado num cavalo branco (que pode, afinal, ser uma reles bicicleta ou um modesto carro utilitário), que nos resgate do nosso mundo de conto de fadas onde vivemos disfarçadas de mulheres modernas, emancipadas e independentes... até batermos demasiadas vezes com a cabeça e finalmente percebermos (perto dos 30, as mais perspicazes) que não existe semelhante mito.
Talvez se não fossem as histórias infantis - e porventura alguns filmes hollywoodescos também - uma querida amiga minha não estaria a sofrer como está, à espera de gestos e palavras que não chegam, de respostas e certezas que ninguém lhe consegue dar... Enfim, de cenas vistas e imaginadas milhões de vezes mas que, na vida real, tão raramente saem bem antes dos 2 615 749 takes.
Porque não há sequer ensaios, guiões, cenários, terras de fantasia, poções mágicas ou beijos que nos acordem da dor, nos apaguem as mágoas ou façam esquecer o amargo sabor da desilusão.
O meu desejo? (Fortemente condicionado por todos os contos que me foram contados e lidos, bem como por todos os que eu li por livre e espontânea vontade, entenda-se.)
Que, por muitas voltas que a sua história pessoal ainda dê e por mais avanços e recuos que ainda estejam escondidos nas cenas dos próximos capítulos, ela possa apenas encontrar um final feliz...

2 comments:

Anonymous said...

Talvez sirvam para nos lembrar que nunca devemos deixar de procurar a felicidade, o nosso "principe encantado".
Talvez sirvam para nos recordar que histórias de amor existem, e que só quem deixou de acreditar em contos de fadas não sabe isso...
Eu vou contar contos de fadas às minhas filhas, para elas procurarem a felicidade, mesmo que o cavalo branco tenha sido substituído por uma bicicleta ou um utilitário...

@na said...

O facto de não se esperar um príncipe encantado nada tem a ver com o facto de se acreditar ou não no amor, tal como o facto de não esperar o pai Natal não retira nem um bocadinho de magia à quadra.

Se há algo que não perdi foi a capacidade de sonhar, de ter esperança e de lutar pela minha felicidade... E acho que é precisamente quem vive uma história de amor que mais facilmente reconhece que os príncipes encantados têm defeitos e os lindos contos de fadas, na vida real, atravessam obstáculos bem mais difíceis do que dragões ou bruxas más.

Muitas vezes são precisamente a imperfeição e o erro que tornam tudo ainda mais especial... e que nos conduzem ao tão desejado final feliz.