Faço hoje greve sem esperança, pois não acredito que esta vá mudar coisa alguma. Mas ainda assim faço greve para que mais um número se junte à lista dos insatisfeitos e expresse a tamanha desilusão que a profissão é neste momento para mim, a par de milhares de outras pessoas.
A minha carreira não existe. Estou condenada a trabalhar anos a fio sob um contrato de 6 meses ou de 1 ano que se renova constantemente (ou não!) sem que qualquer lei ou ordem me conceda um vínculo a uma instituição e me acenda uma luz ao fundo do túnel que me permita tomar decisões na minha vida e lançar bases para crescer.
Sou licenciada, mas pagam-me como se fosse bacharel. Faço horas extraordinárias mas não me pagam mais do que as 8 horas diárias. Trabalho por turnos, mas querem deixar de me compensar em termos monetários este esforço que a pouco e pouco me mina a saúde e me inibe a vida social.
Invisto na minha formação unicamente à custa do meu suor e da minha carteira, sendo que o dinheiro e tempo gastos são compensados exclusivamente com o sentimento de satisfação pessoal, já que a instituição para quem trabalho não a reconhece.
Trabalho sob a pressão constante de ter sob minha responsabilidade a integridade e a vida de demasiadas pessoas, sempre muitas mais do que qualquer recomendação para a prestação de cuidados de qualidade estipula.
Estou exposta a uma série de riscos biológicos e sou constantemente desrespeitada por doentes e seus familiares, que tentam frequentemente tratar-me como sua criada, não reconhecem minimamente o valor do meu trabalho e avaliam a sua qualidade pela hora a que abre a porta do serviço para que comece a visita, sem sequer pararem para pensar se já consegui almoçar, jantar, beber um copo de água ou ir à casa de banho.
Na marcação das minhas férias pesam substancialmente mais os interesses do serviço e da instituição do que a minha vontade pessoal. Perco noites, fins-de-semana, feriados e dias festivos a trabalhar, mas só mesmo os que me são mais próximos sentem o impacto que esse tipo de privação tem na vida de uma pessoa.
Milhares de colegas meus estão no desemprego, pese embora a grande carência de recursos humanos que se faz sentir no local onde trabalho e em muitos outros. Muitos emigram, outros trabalham literalmente de graça, alguns ainda redireccionam a sua carreira para profissões indiferenciadas, como caixeiro de supermercado. Mas, alheias a tudo isto, as faculdades continuam a licenciar todos os anos milhares de novos profissionais, muitos deles em condições de formação duvidosas mas todos cheios de esperança de encontrarem no mercado de trabalho acolhimento e aceitação.
Desiludir-se-ão, assim como eu me desiludi. Porque não nos é dado tempo nem espaço para exercer sequer metade daquilo que sabemos fazer.
Hoje trabalharei o meu turno por completo, com a mesma dedicação de todos os dias, porque apesar da minha frustração, há sempre alguém que não pode deixar de ser cuidado, aconteça o que acontecer. Mas constará que estive em greve. Porquê? Acima de tudo, porque sinto que não tenho futuro.
A minha carreira não existe. Estou condenada a trabalhar anos a fio sob um contrato de 6 meses ou de 1 ano que se renova constantemente (ou não!) sem que qualquer lei ou ordem me conceda um vínculo a uma instituição e me acenda uma luz ao fundo do túnel que me permita tomar decisões na minha vida e lançar bases para crescer.
Sou licenciada, mas pagam-me como se fosse bacharel. Faço horas extraordinárias mas não me pagam mais do que as 8 horas diárias. Trabalho por turnos, mas querem deixar de me compensar em termos monetários este esforço que a pouco e pouco me mina a saúde e me inibe a vida social.
Invisto na minha formação unicamente à custa do meu suor e da minha carteira, sendo que o dinheiro e tempo gastos são compensados exclusivamente com o sentimento de satisfação pessoal, já que a instituição para quem trabalho não a reconhece.
Trabalho sob a pressão constante de ter sob minha responsabilidade a integridade e a vida de demasiadas pessoas, sempre muitas mais do que qualquer recomendação para a prestação de cuidados de qualidade estipula.
Estou exposta a uma série de riscos biológicos e sou constantemente desrespeitada por doentes e seus familiares, que tentam frequentemente tratar-me como sua criada, não reconhecem minimamente o valor do meu trabalho e avaliam a sua qualidade pela hora a que abre a porta do serviço para que comece a visita, sem sequer pararem para pensar se já consegui almoçar, jantar, beber um copo de água ou ir à casa de banho.
Na marcação das minhas férias pesam substancialmente mais os interesses do serviço e da instituição do que a minha vontade pessoal. Perco noites, fins-de-semana, feriados e dias festivos a trabalhar, mas só mesmo os que me são mais próximos sentem o impacto que esse tipo de privação tem na vida de uma pessoa.
Milhares de colegas meus estão no desemprego, pese embora a grande carência de recursos humanos que se faz sentir no local onde trabalho e em muitos outros. Muitos emigram, outros trabalham literalmente de graça, alguns ainda redireccionam a sua carreira para profissões indiferenciadas, como caixeiro de supermercado. Mas, alheias a tudo isto, as faculdades continuam a licenciar todos os anos milhares de novos profissionais, muitos deles em condições de formação duvidosas mas todos cheios de esperança de encontrarem no mercado de trabalho acolhimento e aceitação.
Desiludir-se-ão, assim como eu me desiludi. Porque não nos é dado tempo nem espaço para exercer sequer metade daquilo que sabemos fazer.
Hoje trabalharei o meu turno por completo, com a mesma dedicação de todos os dias, porque apesar da minha frustração, há sempre alguém que não pode deixar de ser cuidado, aconteça o que acontecer. Mas constará que estive em greve. Porquê? Acima de tudo, porque sinto que não tenho futuro.
2 comments:
Sinto e continuo a sentir que nós merecíamoas mais e melhor, diferente.
Sinto e continuo a sentir que não era este o desejo daqueles que apostaram na nossa formação, que investiram em nós num tempo gulbenkiano.
Sinto que somos melhores... muito mais, do que parece possa parecer numa primeira instância.
Quero continuar a acreditar nisso... E é a partilha com quem sente da mesma forma e "fala a mesma língua" que vai ajudando a tornar suportáveis certos esforços.
Obrigada por acreditares também :)
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