Saturday, February 28, 2009

Teatro em Fevereiro

Acto I: Os Maias

Para quem, como eu, gosta da obra de Eça de Queiroz, o Teatro da Trindade é um destino a não perder. Em cena, a recuperação de Os Maias numa encenação de Rui Mendes.
A acção começa quase no final do enredo, no sarau de solidariedade ocorrido precisamente no Teatro da Trindade e desenrola-se numa peça viva, que deixa aflorar a crítica social sempre tão actual do autor.
Todos conhecemos a história, todos sabemos como vai terminar, mas ainda assim vamos assistindo a cada cena com a mesma curiosidade da primeira vez.
Tendo relido Os Maias várias vezes, a imagem mental que criei de cada personagem nem sempre coincidiu com a imagem dos actores que as representaram, mas foi óptimo
redescobrir esta obra prima da nossa literatura sob outro prisma e ouvir proferir, de viva voz, deixas tão familiares e tão ilustrativas da ironia cirúrgica do velho Eça.

Acto II: Caveman - mim caçar, tu colher!

Absolutamente genial!
Em cena no Teatro Armando Cortez, Caveman é um verdadeiro fenómeno mundial que leva qualquer um às lágrimas.
Jorge Mourato, a solo no palco, explica as diferenças entre homens e mulheres e analisa as relações amorosas entre os dois sexos com base na função de cada um no início da História da Humanidade: homens caçadores, mulheres recolectoras. E não é que muita coisa se aplica?
Sai-se com as bochechas e a barriga doridas de tanto rir e a (quase) convicção de que em cada um de nós vive um homem ou mulher das cavernas.

Friday, February 20, 2009

Porque faço eu greve?

Faço hoje greve sem esperança, pois não acredito que esta vá mudar coisa alguma. Mas ainda assim faço greve para que mais um número se junte à lista dos insatisfeitos e expresse a tamanha desilusão que a profissão é neste momento para mim, a par de milhares de outras pessoas.
A minha carreira não existe. Estou condenada a trabalhar anos a fio sob um contrato de 6 meses ou de 1 ano que se renova constantemente (ou não!) sem que qualquer lei ou ordem me conceda um vínculo a uma instituição e me acenda uma luz ao fundo do túnel que me permita tomar decisões na minha vida e lançar bases para crescer.
Sou licenciada, mas pagam-me como se fosse bacharel. Faço horas extraordinárias mas não me pagam mais do que as 8 horas diárias. Trabalho por turnos, mas querem deixar de me compensar em termos monetários este esforço que a pouco e pouco me mina a saúde e me inibe a vida social.
Invisto na minha formação unicamente à custa do meu suor e da minha carteira, sendo que o dinheiro e tempo gastos são compensados exclusivamente com o sentimento de satisfação pessoal, já que a instituição para quem trabalho não a reconhece.
Trabalho sob a pressão constante de ter sob minha responsabilidade a integridade e a vida de demasiadas pessoas, sempre muitas mais do que qualquer recomendação para a prestação de cuidados de qualidade estipula.
Estou exposta a uma série de riscos biológicos e sou constantemente desrespeitada por doentes e seus familiares, que tentam frequentemente tratar-me como sua criada, não reconhecem minimamente o valor do meu trabalho e avaliam a sua qualidade pela hora a que abre a porta do serviço para que comece a visita, sem sequer pararem para pensar se já consegui almoçar, jantar, beber um copo de água ou ir à casa de banho.
Na marcação das minhas férias pesam substancialmente mais os interesses do serviço e da instituição do que a minha vontade pessoal. Perco noites, fins-de-semana, feriados e dias festivos a trabalhar, mas só mesmo os que me são mais próximos sentem o impacto que esse tipo de privação tem na vida de uma pessoa.
Milhares de colegas meus estão no desemprego, pese embora a grande carência de recursos humanos que se faz sentir no local onde trabalho e em muitos outros. Muitos emigram, outros trabalham literalmente de graça, alguns ainda redireccionam a sua carreira para profissões indiferenciadas, como caixeiro de supermercado. Mas, alheias a tudo isto, as faculdades continuam a licenciar todos os anos milhares de novos profissionais, muitos deles em condições de formação duvidosas mas todos cheios de esperança de encontrarem no mercado de trabalho acolhimento e aceitação.
Desiludir-se-ão, assim como eu me desiludi. Porque não nos é dado tempo nem espaço para exercer sequer metade daquilo que sabemos fazer.
Hoje trabalharei o meu turno por completo, com a mesma dedicação de todos os dias, porque apesar da minha frustração, há sempre alguém que não pode deixar de ser cuidado, aconteça o que acontecer. Mas constará que estive em greve. Porquê? Acima de tudo, porque sinto que não tenho futuro.

Tuesday, February 10, 2009

SOS Lx

Este Inverno chuvoso deixou as ruas de Lisboa numa lástima: são buracos atrás de buracos. A maioria até já lá estava no Verão, mas o desleixo e o mau tempo transformaram-nos em verdadeiras crateras.
É feio, é perigoso e chega mesmo a ser triste que a capital do meu país tenha as suas principais artérias de circulação tão mal conservadas.
Nem em ano de eleições isto muda, caramba?