Friday, May 23, 2008

Greves e graves

Também eu tenho motivos para andar descontente, desde o trabalho precário, à remuneração como bacharel apesar do grau de licenciatura, à ausência de perspectivas de progressão numa carreira que está suspensa há anos, à falta de condições de trabalho... Mas, que me desculpem todos os grevistas, sindicalistas e outros istas ferranhos: que greve é esta feita a uma sexta feira (como quase todas, curiosamente), a seguir a um feriado?! Que impacto tem este tipo de data a não ser o de agravar a ideia de que o funcionalismo público se resume a um conjunto de baldas, pontes, entradas tardias e saídas precoces com muitas pausas para descanso pelo meio?! E mais: que definição de serviços mínimos é esta, na qual colocar e retirar uma arrastadeira não está incluída mas mudar uma fralda está, obrigando assim pessoas continentes a urinar e evacuar na fralda, num completo desrespeito pela sua dignidade?! Onde ficam a responsabilidade e a ética profissionais?!
Greve é, sem dúvida, um direito dos trabalhadores. Direito ao protesto, à luta por tudo o que lhes assiste, mas não direito "à balda". É uma manifestação contra o patronato e nunca contra o cidadão seu cliente, neste caso os doentes que, na prática, são quem realmente sofre.
Não me queixo de ter posto as arrastadeiras que pus, de ter dado os banhos que dei sozinha, de ter feito as camas desocupadas, de ter limpo e arrumado bacias, de ter carregado com jarros de água quente, de não ter o material reposto, de ver os sacos do lixo cheios e mal cheirosos... de nada. A não ser desta atitude generalizada de "deixa-andar" à qual não consigo nem quero aderir.

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