Tuesday, August 7, 2007

Arrumar gavetas

Arrumar gavetas é daquelas actividades quase impossível de qualificar, à qual só me dedico mesmo em três situações: 1) quando não dá para ignorar mais e, no meu limite, decido que "tem que ser" e ponho fim ao caos; 2) quando tenho algo que não me apetece mesmo nada fazer e arrumar gavetas (imagine-se!) serve de fuga e surge como algo inevitável e inadiável; 3) quando não tenho absolutamente nada que fazer e me dá para aí.
Foi esse o caso de hoje e, inexplicavelmente, acabou por me trazer uma enorme nostalgia.
Resolvi arrumar gavetas e caixas de recordações, cheias de pequenos nadas que fui acumulando ao longo dos anos... Bilhetinhos daqueles que se mandam nas aulas, fotografias, cancioneiros de campos de férias, cartões antigos, bilhetes de cinema e espectáculos, medalhas, agendas velhas, presentinhos, cadernos com letras de músicas, notas e pensamentos, flores secas, dedicatórias, convites...
A minha história, os meus encontros e desencontros estão ali descritos, expostos, arquivados. Mas vivos. Vivos dentro daquelas gavetas fechadas e, descobri, vivos também em mim, gravados algures debaixo da pele, ainda que disfarçados e tantas vezes esquecidos na correria do presente e entre os projectos do futuro.
Desisti de arrumar ou fazer qualquer selecção de objectos. Limitei-me a recolocar tudo nos seus devidos lugares, como se de repente tivesse medo de deitar fora alguma parte de mim. Revisitei a minha vida. Revisitei-me a mim própria. E isso fez-me muito bem.
Acabei de fechar a última gaveta e senti-me uma verdadeira pirata a fechar a gruta onde escondeu o seu tesouro, na certeza de que ali ninguém mais o encontrará.

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