Nunca fui rapariga de grande instinto maternal e muitas vezes senti que me faltava o jeito para a interacção com crianças, inicialmente demasiado pequenas e frágeis, depois com uma serie de variações, entre tímidas ou assustadas e hiperactivas ou birrentas. Continuo a achar que não estou ainda preparada para a maternidade, mas apesar disso a M. tem trazido toda uma nova perspectiva.
Se entrou na vida do pai e da mãe com a intensidade da rabanada de vento que tudo vira, entrou na minha com a alegria das surpresas boas e a docura da brisa de Verão. É fascinante vê-la crescer, cada semana maior e mais gorducha, a interagir mais e a descobrir o mundo. Os olhos sempre muito abertos, de curiosidade e de espanto, com aquele interesse genuíno de quem está a ver tudo pela primeira vez...
Às vezes dou comigo a pensar que a vida é realmente um milagre, que aquele ser pequenino que habitou a barriga da J. cresceu e, se ainda há 2 meses e pouco mal abria os olhos, quando dermos por isso vai estar a entrar para a escola e a perguntar de onde vêm afinal os bebés.
Enquanto isso, derrete toda a gente com os seus sorrisos, os seus bocejos, as suas poses a dormir... E inunda-me de ternura e de esperança ver esta nova família, que me acolhe em si ao tornar-me madrinha desta criança. A honra traz consigo uma enorme responsabilidade, mas também muito entusiasmo. Quero estar por perto, vê-la crescer, identificar os traços da mãe e do pai, descobrir o que será seu e a tornará única e ainda mais especial, contar-lhe as aventuras "de quando éramos novos" (que para nós terá sido há 2 dias e para ela parecerá sempre uma eternidade), levá-la a lugares, ensinar-lhe alguma coisa... Não sei muito bem qual será o meu estatuto, se de amiga da mãe, se de tia chata, se de amiga mais velha. O tempo e a M. mo mostrarão. Mas se há algo que tenho por certo é que esta meia-dose de gente, só por existir, já ocupa um daqueles pequenos apartamentos do cantinho do coração, reservados apenas aos hóspedes do amor incondicional.