Monday, April 7, 2008

E a polémica continua...

Muito se tem falado nas últimas semanas de violência nas escolas, tema trazido à ribalta pelo episódio da Escola Carolina Michaelis. Não deixa de ser curiosa a onda que se gerou em volta deste caso, motivando o debate e mobilizando toda a opinião pública, dividida algures entre os que condenam a aluna e os que condenam a professora. No entanto, não me parecem muitos os que páram para questionar o que significa aquele episódio (bem como outros que têm sido divulgados depois) no contexto actual.
A geração dos meus pais e as anteriores foram educadas em ambientes mais hostis, quer em casa, quer na escola, onde a autoridade do professor era incontestável e os castigos com palmatórias e orelhas de burro ditavam a lei. Quanto à minha geração, penso que tivemos a sorte de viver numa época mais moderada e informada, na qual os conhecimentos de pedagogia e psicologia deram os seus contributos e os castigos físicos eram já raras excepções. Hoje, que temos? Crianças insubordinadas, que não respeitam minimamente a autoridade das pessoas mais velhas, quer sejam pais, avós, professores ou quaisquer outros. A maioria dos nossos adolescentes têm telemóveis desde tenra idade, televisão no quarto, acesso ilimitado à internet; as miúdas vestem-se e produzem-se de modo provocante e passeiam-se nos autocarros às 8 da manhã maquilhadas como para uma sessão fotográfica; os seus maus resultados na escola são desculpados pelos pais com a má qualidade dos professores; reclama-se a toda a hora das exigências do sistema educativo, luta-se para acabar com as provas nacionais e diminuir a um nível insignificante o seu peso na avaliação dos alunos e no seu acesso ao ensino superior; pressionam-se as escolas, os professores para não reprovar os meninos, sob pena deles ficarem "traumatizados"; perdoa-se-lhes a sopa e a fruta às refeições e premeiam-se as birras com brinquedos e jogos violentos, roupas de marca, bolos e guloseimas; criam-se homens e mulheres arrogantes, a quem pouco ou nada dizem valores fundamentais, que não sabem lidar com a frustração e que têm como principal objectivo o protagonismo fácil e sem mérito de aparecer em series de televisão tão vazias de conteúdo como as suas próprias vidas.
Enquanto "no meu tempo" um comportamento como o da aluna do vídeo seria uma excepção, hoje é toda uma turma que assite, apoia, filma e publica o que se passou. Enquanto na minha turma de secundário um professor, melhor ou pior, conseguia manter a ordem na sala de aula, a autoridade desta professora é discutida no confronto físico com a aluna e não através dos órgãos apropriados: direcção de turma, conselho disciplinar... ou será que todas estas formas de organização escolar foram entretanto extintas? E os pais, onde andam e onde pára a sua responsabilidade no meio disto tudo?!
Não, não éramos nenhuns santos. Nem o somos hoje, evidentemente. Resta saber como serão estes jovens, daqui por uns anos.

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