Monday, January 14, 2008

Histórias para não adormecer

Um livro para todos lermos, nos envergonharmos da pequenez da maioria dos nossos problemas e ganharmos força para lutarmos pelas nossas causas pessoais, mas também por causas que são de todos nós, enquanto pessoas: "Histórias para não adormecer: relatos dos voluntários da AMI em diversos pontos do mundo".
Porque a vontade de partir para uma missão de voluntariado algures na mãe-África vive em mim há muito tempo e por mil e um outros motivos, houve muitas histórias que me chocaram, me emocionaram e me marcaram... muitos relatos que me deram que pensar...
Destaco aqui um excerto de um texto do prórpio Fernando Nobre (fundador da AMI), retirado de um diário de missão num campo de refugiados ruandeses, campo de exposição da miséria e crueldade humanas. Porque todos podemos fazer a diferença individualmente e mudar pequenos mundos com os nossos pequenos gestos, mas não podemos deixar de nos sentir impotentes perante a imensidão que continuamos sem conseguir mudar... e a passividade de quem o poderia fazer e não faz.
"Acuso os corruptos instalados em todos os continentes, assim como os altos responsáveis das grandes potências, sobretudo dos cinco permanentes no Conselho de Segurança da ONU, os altos responsáveis da ONU (e suas agências), da NATO, da UEO, da União Europeia, de serem co-responsáveis directos de todas essas chacinas. São eles os agentes permissivos das chacinas e da corrupção, pela falta de coragem e de vontade na resolução das crises; são eles também os agentes de morte pela venda de armas, causa de todas essas misérias. Eles vivem dessas misérias, das reuniões múltiplas e inúteis, que lhes garantem viagens e salários vergonhosos, onde se "tomam" decisões que se sabe de antemão que não são tomadas para serem aplicadas mas para ganhar tempo e enganar a opinião pública internacional que, na sua maioria, se deixa cegar e adormecer. Muitas vezes, por puro comodismo, são esses "grandes" senhores, estrategas da miséria e das catástrofes, que, de reunião em reunião, de "cocktail" em "cocktail", dissertam sobre as soluções sem nunca terem vivido e compreendido - porque não lhes interessa - as tragédias que provocam conscientemente, por cinismo, ou inconscientemente, por cobardia ou incompetência.
Há que repensar todo o circuito das decisões a nível internacional. Há que moralizar e pôr uma ética nas relações internacionais, única forma de evolução positiva da humanidade. Os ditadores corruptos e assassinos têm que ter a certeza absoluta de que certos comportamentos serão punidos. (...)
Porque penso que a humanidade tem a capacidade de resolver todas estas questões e todas aquelas que se apresentarem, apelo a um reforço de solidariedade entre os povos baseada na ética humanista. Será uma utopia?"
Será?

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