Tuesday, March 12, 2013

Nunca fui capaz de te negar

Mas tenho sempre muitas dúvidas sobre ti.
Ah, e desculpa desde já não te referir em maiúsculas, mas é minha convicção que, se fores verdadeiramente quem dizem que és, não estarás minimamente preocupado com semântica, gramática ou ortografia. Serás amor e não castigo; serás generosidade e nunca rancor; serás igualdade e por isso não deixarás de me ouvir apesar das minhas assumidas dúvidas, das nossas divergências de opinião, ou da forma como te escrevo.
É por isso que tenho falado muito contigo, ultimamente. Pela segunda vez nesta minha ainda curta vida caio de joelhos a implorar-te que existas, que estejas mesmo aí, algures, um pouco por todo o lado...
Se assim for, ouves-me, não é? Então não olhes para mim e para as minhas faltas porque não é por mim que te peço. Ajuda-a, por favor.

Monday, February 25, 2013

A arte da relativização

Tive no outro dia à minha frente um senhor que dissertou sobre a tragédia que é ter necessidade de usar óculos para ver ao perto. Aquilo custou-me. Ouvi todo o seu lamento, respirei fundo, engoli o amargo de profundo egoísmo a que aquilo me soou, expliquei-lhe que se trata de uma dificuldade esperada na sua faixa etária e porquê... Mas não resisti a acrescentar que - calma aí! - tragédia?! Tragédia é outra coisa!
E podia ter acrescentado: Quer que lhe fale um bocadinho sobre isso? Mas achei que não valia a pena...

Wednesday, November 28, 2012

Thursday, November 1, 2012

Saturday, October 13, 2012

Cá está ela!

Eu esperei

Nas últimas semanas não há vontade de ligar a tv e ouvir noticiários, cheios de más notícias e histórias tristes. Não é querer ignorar, pois a verdade todos conhecemos e sentimos a cada dia na pele a sua dureza; é saber que os media pouco ou nada nos acrescentam, a não ser a ignorância e o desânimo.
Por todos os cantos há frustração e há sobretudo uma revolta muda, a que não se exprime nas palavras de ordem e nos braços no ar, mas antes borbulha no tecido subcutâneo de quem a sente mas não vê ainda a melhor maneira de lhe dar voz ou sentido.
Pelo meio, tropecei numa música que não conhecia e sustive a respiração, pois ela exprime tudo o que vejo e penso e sinto a respeito desta conjuntura. O poema é absolutamente lindo.
 
"Eu esperei
Mas o dia não se fez melhor
E o sujo não se quis limpar,
Inventou mais flores em meu redor
Como se eu não fosse olhar!
Enfeitou as ruas para cobrir
Terra seca de não semear
Deram-me água turva a beber
Dizem cura e força e solução
Como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
Mas o fumo não saiu da estrada
Arde o sonho em troca de nada
Dizem festa, mas é solidão
Como se eu não fosse olhar!
A mentira não se fez verdade
E a justiça não se fez mulher
A revolta não se fez vontade
Braços novos sem educação
Sangue velho chora de saudade!

Eu esperei
Dizem luta mas não há destino
Dão-me luzes mas não é caminho
Dizem corre mas não é batalha
Como quem não quer mudar!
Esta corda não nos sai das mãos
Esta lama não nos sai do chão
Esta venda não deixa alcançar.
Cantam "armas" mas não é amor
Mão no peito mas não é amar
Fato justo mas sem lealdade
Cavaleiro mas já sem moral
Braços sujos que se vão esconder
Braços fracos não são de lutar
Braços baixos não se querem ver
Como se eu não fosse olhar!

Eu esperei
Pelo tempo transparente em nós
Pelo fruto puro de escolher
Pela força feita de alegria
Mas o povo dorme na ilusão!
E a tristeza é forma de sinal
Liberdade pode ser prisão...
Meu deus, livra-nos do mal
E acorda portugal..."
 
Tiago Bettencourt 

Wednesday, September 12, 2012

Sempre a mesma cantiga!

"O Zé não sabe onde pôr as mãos
e está farto de as ter no ar.

Não teve sorte com os padrinhos
Nem tem jeito p'ra roubar.

O Zé podia arranjar emprego e matar-se a trabalhar,
Mas olha em volta e o que vê não o pode entusiasmar."

Jorge Palma, A Cantiga do Zé
Asas e Penas, 1984