Bruce Springsteen não só é o boss como é um senhor. Aos 62
anos deu um concerto e tanto, mostrando músicas novas que provam que o seu
talento criativo e a sua voz estão longe de estarem esgotados, e revisitou
temas de sempre, parte integrante da memória colectiva de pelo menos 3
gerações. Nunca fui uma fã, de cor sabia apenas alguns refrões, mas tornei-me
uma admiradora e não posso esconder o respeito pela energia que mostrou em
palco, numa entrega a um público exausto da espera e do frio. Cantou sempre como
se dedicasse todas as músicas às pessoas da primeira fila, mas deixando claro
que sabia bem a dimensão da plateia que o aplaudia. Achei que o concerto ia
terminar várias vezes e, apesar de estar a gostar, respirava aliviada pensando
em regressar a casa, mas rapidamente ele avançava: “one two three” ou “one
more”, que invariavelmente se transformava em mais quatro ou cinco. O final foi
apoteótico, com o desfile das mais conhecidas, que puseram os milhares de
resistentes da Bela Vista a dançar. Uma oportunidade agarrada, esta de ver ao
vivo um nome incontornável do rock’n’roll (com cheirinho a country, folk,
jazz, blues, pop ou o que mais lhe sabe acrescentar e calha sempre tão bem).
Xutos são sempre Xutos. Já todos vimos muitas vezes,
conhecemos todo o repertório, qualidades e limitações… Mas é inegável que
incendeiam sempre uma plateia, seja ela de que dimensão for, em qualquer
cantinho deste Portugal. Foi impossível ficar-lhes indiferente… E houve que
cantar, que abanar, que aplaudir e que fazer o gosto ao sorriso de orgulho ao
pensar que são portugueses e são dos bons.
Mas nesta retrospectiva o melhor não foi o que se guardou
para o fim. Aconteceu ainda de dia claro e prolongou-se pelo anoitecer. Foram
os James, foi o Tim Booth, os seus agudos e as suas danças de boneco
desatarrachado, foram os acordes familiares e as letras sabidas de cor, foram
as recordações do punk rock e do meu eu adolescente… Com a falha imperdoável de ter ficado a faltar o “Fred Astaire”.
Simples, iguais a si próprios. É deles que mais dificuldade há em falar, pois
houve sobretudo muito que sentir, entre o colorido do palco e os olhos fechados
de quem canta a plenos pulmões canções intemporais, como são sempre as dos
melhores anos das nossas vidas.